Quando a pintura cria sua própria língua | O léxico de Mônica Ruggiero
- Marisa Melo

- 21 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de set.

Em artes visuais, falar de léxico é falar de uma língua construída sem palavras. Cada artista, ao longo de sua trajetória, forja um conjunto de formas, cores, ritmos e temas que passam a se repetir, se transformar e se expandir. Esse repertório não é casual: ele organiza sentidos, delimita uma gramática e cria identidade. Assim como na literatura reconhecemos a cadência de um poeta ou no cinema a marca de um diretor, na pintura encontramos no léxico os sinais que permitem distinguir uma obra de um conjunto mais amplo de possibilidades visuais.
O léxico de um artista não nasce apenas da técnica, mas de uma soma de experiências e experimentações que se sedimentam em linguagem. São as memórias íntimas que retornam, os sonhos que insistem, os fantasmas que assombram silenciosamente o gesto criador. É também o olhar lançado ao cotidiano, o que chama a atenção numa rua, o detalhe que se repete e se fixa como imagem, assim como as músicas que marcam ritmos internos e os filmes que oferecem outras narrativas de mundo. Na pintura, essas influências se traduzem em repetições formais, em insistências cromáticas, em escolhas de composição que, pouco a pouco, constroem uma gramática própria. O léxico é, portanto, a soma invisível de tudo aquilo que molda a visão de mundo do artista e que encontra na tela o espaço para se tornar visível.
História e filosofia da linguagem visual
A preocupação com linguagem não é nova. Aristóteles já dizia que “o homem é o animal que possui logos”, isto é, capacidade de articular e ordenar o mundo por meio de símbolos. Séculos mais tarde, filósofos da linguagem e da estética refletiram sobre como o gesto artístico cria não apenas imagens, mas sistemas de significação. Paul Klee, ao ensinar na Bauhaus, dizia que “a arte não reproduz o visível, mas torna visível”. É exatamente nesse ponto que o léxico se torna fundamental: ele é a forma própria de cada artista tornar visível o que, sem sua obra, permaneceria sem corpo.
O léxico de Mônica Ruggiero
O trabalho de Mônica Ruggiero se apresenta como construção contínua de um léxico visual, entendido não apenas como repetição formal, mas como uma gramática que organiza sentidos. Desde a Antiguidade, pensadores como Aristóteles refletiram sobre a capacidade humana de ordenar o mundo por meio do logos, e na arte essa ordem se dá não pela palavra, mas pelo gesto e pela cor. O léxico, nesse sentido, é o alfabeto silencioso que cada artista cria para tornar visível aquilo que não se enuncia de outra forma. Esse alfabeto se desdobra em camadas que não são simples fundos ou preenchimentos, mas densidades que vibram como organismos. Os gestos, por sua vez, carregam resquícios de experiências, rastros de memórias e fragmentos de percepções que se convertem em linguagem.
Por isso, falar em léxico é falar de uma fidelidade à própria linguagem. Cada artista, consciente ou não, retorna a certos elementos, insiste em determinadas formas, revisita motivos que se tornam estruturais. No percurso de Mônica, essa fidelidade não resulta em repetição estéril, mas em amadurecimento, em uma rede de imagens que se expandem sem perder a coerência. O léxico, é chave de leitura, mas também é promessa de futuro: o território onde a artista pode continuar inventando, sem perder a assinatura que a torna única.
Série: Nativos_2024
Por isso, falar em léxico é falar de uma fidelidade à própria linguagem. Cada artista, consciente ou não, retorna a certos elementos, insiste em determinadas formas, revisita motivos que se tornam estruturais. No percurso de Mônica, essa fidelidade não resulta em repetição estéril, mas em amadurecimento, em uma rede de imagens que se expandem sem perder a coerência. O léxico, é chave de leitura, mas também é promessa de futuro: o território onde a artista pode continuar inventando, sem perder a assinatura que a torna única.
Unidade no diverso
Ao reunir pinturas de diferentes séries de Mônica, fica evidente que, mesmo em séries distintas e fases diversas, sua obra conserva um léxico próprio. Cada tela pode variar em tema, atmosfera ou técnica, mas sempre retorna a um núcleo de elementos que dão unidade ao conjunto: as cores, os gestos que trazem movimento, as formas orgânicas que se repetem como variações de uma mesma gramática. Essa continuidade confirma que o verdadeiro léxico de um artista não depende apenas do motivo representado, mas da maneira com que ele organiza sua visão do mundo em linguagem visual.
Compreender o léxico de um artista é compreender sua assinatura, o território onde sua voz se afirma. No percurso de Mônica Ruggiero, esse território se mostra vivo, coerente e em expansão, garantindo que sua obra dialogue com o presente sem perder consistência. Seu léxico é, ao mesmo tempo, raiz e horizonte: um alfabeto visual em permanente reinvenção.
Saiba mais sobre Mônica Ruggiero:
Instagram: monicaruggiero_art


















