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A arte e a poética de
M A R I S A M E L O
Meu trabalho parte da efemeridade. Estudo o que muda, o que se desfaz, o que não fixa. As figuras sem rosto são a forma mais honesta de assumir essa transitoriedade.
Há trinta anos sigo pela arte como quem tenta compreender a vida a partir do que escapa. A fotografia foi meu primeiro campo de estudo. Dei aula de fotografia de moda e documental, observando como um instante se forma e se desfaz quase no mesmo segundo. Essa percepção marcou tudo o que veio depois. A artista digital, a ilustradora, a pintora em técnica mista, óleo, aquarela e acrílica, todas carregam essa mesma pergunta sobre o tempo e a pressa.
Composições - Petit Casa Cor
Há trinta anos sigo pela arte como quem tenta compreender a vida a partir do que escapa. A fotografia foi meu primeiro campo de estudo. Dei aula de fotografia de moda e documental, observando como um instante se forma e se desfaz quase no mesmo segundo. Essa percepção marcou tudo o que veio depois. A artista digital, a ilustradora, a pintora em técnica mista, óleo, aquarela e acrílica, todas carregam essa mesma pergunta sobre o tempo e sua pressa.
A filosofia me acompanha desde cedo e sempre reforça o que procuro na imagem. Heráclito já apontava que tudo flui, que não pisamos duas vezes no mesmo rio. Essa ideia nunca me abandonou. Quando trabalho uma pintura ou uma fotografia, penso nesse fluxo constante, nessa mudança que não oferece estabilidade. É por isso que minhas figuras não têm rosto. O rosto fixa. O rosto limita. O rosto cria uma identidade que dura mais do que o próprio instante. Ao retirar a feição, permito que a figura permaneça no movimento, sem se cristalizar. O pescoço alongado amplia essa sensação, como se o corpo esticasse o tempo para um pouco além do que é possível.
A literatura, a filosofia e a teologia ampliam minha pesquisa. Em todas encontro a mesma pergunta que atravessa a existência humana. A vida é breve demais. Essa brevidade produz mistério, lacunas, zonas onde as respostas não chegam. É nesses espaços que me sinto viva como artista. Gosto do que se esconde, do que exige atenção, do que só aparece para quem insiste em olhar de novo. Meus estudos de pintura seguem essa direção porque acredito que as imagens mais fortes são as que não se entregam de imediato.
Ao longo de três décadas experimentei técnicas, estilos, suportes e linguagens. Não busco coerência linear, busco verdade no processo. Pintei em muitos caminhos para entender que minha poética precisa desse estado entre presença e ausência, entre o que surge e o que se retira. Fotografias, ilustrações, pinturas e gravuras participam do mesmo pensamento, cada uma iluminando uma parte dessa investigação sobre o tempo.














