Rudy Rahal: A Pintura Como Território do Feminino
- Marisa Melo
- 28 de mai.
- 3 min de leitura

Rudy Rahal, artista visual nascida em São Paulo, construiu seu percurso entre o mundo jurídico e a arte. Formada inicialmente em Direito e atuante no universo corporativo por vários anos, em 2020 decidiu voltar-se integralmente à prática artística, assumindo sua vocação como necessidade vital. Sua transição foi silenciosa, mas definitiva. E sua pintura carrega esse gesto: uma escolha que, antes de ser estética, é existencial.
Graduada em Artes Plásticas pela Escola Panamericana de Arte, Rudy ampliou sua formação no ateliê do Museu de Arte Moderna de São Paulo, sob orientação do artista Sergio Niculitchef, e aprofundou-se em história da arte com Felipe Martinez. Desde 2021, estuda com o professor e pintor Blagojco Dimitrov, aprimorando sua linguagem pictórica com foco na figuração contemporânea.
Sua pesquisa atual gira em torno da representação da mulher. Mais do que tema, o feminino em sua obra é estrutura, e é presença. Rudy não busca a beleza idealizada nem a narrativa didática. Ela constrói imagens que partem do corpo para chegar à condição, do gesto para chegar àquilo que foi calado. Sua pintura é, muitas vezes, uma tentativa de traduzir o que não se disse, o que foi imposto ao silêncio.
Pintar o que a pele calou
Nas obras apresentadas na exposição De Onde Eu Vim: Reconstruindo Memórias, Recriando Caminhos, Rudy Rahal revela sua potência como artista visual que escuta antes de representar. Com o uso de tinta acrílica e carvão sobre tela, ela constrói figuras femininas que habitam o espaço pictórico com densidade emocional e contornos expressivos.
Ao observar suas obras, percebe-se que o foco não está no reconhecimento do rosto, mas na forma como o corpo ocupa e tensiona o espaço. Em algumas composições, os contornos aparecem mais definidos; em outras, são quase diluídos, misturados à textura do fundo. A escolha técnica é sempre deliberada: Rudy trabalha com a linha e com a cor como ferramentas de escavação emocional.
Suas figuras não são heroínas nem vítimas. São presenças que, mesmo sem fala, se impõem. Há nas posturas corporais, nos traços do carvão, na espessura das pinceladas, uma verdade que não se explica, apenas se sustenta. A pintura de Rudy evita o excesso de acabamento e valoriza a estrutura expressiva. Fragmenta o corpo, dissolve os limites entre figura e fundo, recusa a literalidade.
O feminino em sua obra é atravessado por vivências, questionamentos e gestos contidos. É sobre o peso cultural de ser mulher, mas também sobre a dignidade de continuar existindo com força, mesmo quando não se é ouvida. Suas referências dialogam com a artista britânica Jenny Saville, especialmente no que diz respeito à desconstrução da imagem clássica do corpo e à busca por uma pintura que contenha drama, densidade e instabilidade.
Uma artista em escuta ativa
Mais do que retratar mulheres, Rudy as pinta como se fosse parte de cada uma delas. Sua obra é atravessada por afeto, desconforto e presença. Há sempre algo que pulsa, mesmo nos vazios. E é justamente isso que torna sua pintura relevante: ela não busca afirmar verdades, mas provocar permanência.
Com traços firmes e sensibilidade contida, sua produção nos lembra que o gesto feminino na arte vai além do que é visto — ele toca o que foi omitido.

Visite a mostra!
Exposição: De Onde Eu Vim: Reconstruindo Memórias, Criando Caminhos
Local: Shopping West Plaza, Piso I, Rua Francisco Matarazzo, s/n – horário de shopping
Realização: UP Time Art Gallery
Curadoria: Marisa Melo
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