Andrea Mariano | História de Todas Nós Mulheres
- Marisa Melo

- 23 de jun.
- 4 min de leitura
Estreou no dia 17 de junho a exposição virtual História de Todas Nós Mulheres, uma mostra em 3D que reúne um coletivo de artistas comprometidas em mostrar o que é ser mulher com verdade e intensidade. São obras que abordam realidades diversas, trajetórias marcadas por rupturas, sobrecarga, reinvenção, cuidado, injustiça e potência.
O projeto nasce da urgência de visibilizar narrativas visuais que não embelezam a dor nem suavizam a luta, mas assumem o que se vive

“Há em cada olhar uma tentativa de dizer o que a voz não alcança.”
Essa frase poderia inaugurar a série Olhares, da artista Andrea Mariano, sem necessidade de legenda. Em um tempo em que a imagem corre mais rápido que a fala, Andrea faz do olhar um instrumento de denúncia. Na exposição História de Todas Nós Mulheres, apresenta duas pinturas em acrílica sobre tela, ambas com dimensões de 80 x 100 cm, em que retrata mulheres silenciadas por contextos de guerra, especificamente a guerra na Ucrânia, mas que se recusam a ser apagadas. O que se vê, antes de qualquer discurso, é um enfrentamento visual. Olhos que desafiam o silêncio, olhos que não desviam.
Andrea Mariano é artista visual, advogada, enfermeira padrão, palestrante e membro da Academia de Letras de Princesa Isabel, sua cidade natal na Paraíba. Sua trajetória multifacetada não fragmenta sua identidade, pelo contrário, densifica seu gesto criador. A artista transita entre o realismo e a pop art com, utilizando elementos técnicos para construir imagens diretas e expressivas. Seu trabalho articula precisão formal com discurso crítico, o que resulta em obras que comunicam tanto pela imagem quanto pela intenção.
Na série Olhares, da qual fazem parte as obras exibidas na mostra, Andrea abandona a representação literal da guerra para se concentrar em suas consequências subjetivas. Os rostos femininos aparecem cobertos por tecidos, azul e amarelo em uma, verde vibrante em outra, restando visível apenas o olhar. A estrutura da composição é semelhante nas duas obras: plano fechado, frontalidade e foco absoluto nos olhos. Mas é aí que reside a diferença essencial. Enquanto uma expressa alerta, a outra carrega contenção. São variações do mesmo tema: o enfrentamento da exclusão feminina dos discursos.
Na primeira obra, a artista explora as cores da bandeira ucraniana. Os tecidos em azul e amarelo envolvem o rosto da personagem e deixam à mostra apenas um olho, que encara diretamente o espectador. A pintura é marcada por contrastes: entre o calor da pele e a frieza do tecido, entre o gesto contido e o impacto da composição. O olhar é direto, incisivo. Essa mulher, embora coberta, não está escondida. Ela se faz presente. Andrea rompe com a estética da vítima e propõe a estética da testemunha, aquela que viu, que sabe e que sustenta o olhar.

Na segunda obra, o verde domina a cena. O fundo escuro e a iluminação dramática acentuam a presença dos olhos, que parecem emergir da sombra com uma força quase física. O olhar é mais denso, talvez mais amargo. Há desconfiança, mas também firmeza. A mulher observa, avalia, se protege. O tecido não a neutraliza, ele a envolve estrategicamente. O uso do verde, cor comumente associada à fertilidade, à vida e à esperança, adquire outro sentido: é como se a artista dissesse que, mesmo em silêncio, a vida continua sendo sustentada pelas mãos e pelos olhos das mulheres.
Ambas as pinturas expõem um jogo de opostos: visibilidade e ocultamento, suavidade e dureza, beleza e enfrentamento. Andrea não recorre a narrativas explícitas. Não há tanques, explosões, gritos. O conflito está todo contido no olhar. É nesse ponto que sua pintura ganha força, ao transformar o retrato feminino em luta. Ao mostrar que, mesmo caladas, essas mulheres são agentes da própria história.
A série Olhares contribui para a mostra História de Todas Nós Mulheres como posicionamento. Andrea transforma o gesto de olhar em ação política.
Ao trazer essas obras para o contexto curatorial da mostra, Andrea reafirma que arte é também linguagem de enfrentamento. Que não há neutralidade possível diante da negligência histórica das mulheres, especialmente em contextos de conflito. Que o corpo feminino, mesmo coberto, carrega uma luz que não se apaga. E que o olhar, quando sustentado, torna-se gesto de afirmação.

Curatorial:
História de Todas Nós, Mulheres é um projeto feito com alma, para que possamos contar e recontar as histórias que nos atravessam, nos moldam e nos transformam. Um espaço seguro e sensível onde cada mulher pode compartilhar sua vivência, sua força e sua verdade. Porque quando uma mulher se escuta, se expressa e se reconhece, ela cura partes profundas de si e acende luzes no caminho de outras.
Visite a exposição:
Serviços:
Exposição Virtual 3 D: História de Todas Nós Mulheres
Plataforma: Kunstmatrix
Realização: UP Time Art Gallery
Curadoria: Marisa Melo
De 17 de junho à 17 de agosto de 2025


