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Lenny Hipólito: A disciplina do gesto

Atualizado: 9 de ago.

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“A arte é uma linguagem silenciosa, que transforma sem tocar.” Lenny Hipólito

Existem trajetórias que não rompem com o passado, mas o percorrem com lucidez. O que poderia soar como oposição entre o mundo corporativo e o universo artístico, em Lenny Hipólito se configura como desdobramento. O rigor que um dia estruturou seu trabalho com gestão, liderança e comunicação sustenta uma linguagem pictórica que exige atenção plena.


Desde a infância, seu olhar já buscava os detalhes que escapam à urgência da modernidade, e sua sensibilidade encontrava vazão na pintura, no desenho, na combinação intuitiva das cores. Era a criança que, mesmo diante das exigências do mundo adulto, cultivava um território próprio de imaginação, minúcia e beleza. Pinta desde menina, como forma de estar no mundo. Ao longo da vida, manteve essa centelha acesa, mesmo quando o cotidiano a levou por outras rotas.


Graduada em Ciências Econômicas, com MBA em Gestão Empresarial pela USP/IPG, Lenny atuou por mais de vinte anos em empresas estatais, como instrutora e palestrante em cursos de marketing pessoal, comunicação e desenvolvimento humano. Foi nesse mesmo tempo, pragmático, coletivo, público, que sua natureza visual e reflexiva seguiu em silêncio, amadurecendo, à espera de espaço e tempo. A arte não surgiu como fuga, mas como intensificação. Em vez de abandonar seu passado, Lenny o incorporou como estrutura. A disciplina do mercado tornou-se disciplina criativa. O planejamento deu lugar ao gesto. A voz que ensinava tornou-se percepção visual.


Sua formação artística não seguiu os trilhos da academia tradicional, Lenny investiu em uma formação autodirigida, com cursos livres, leituras profundas e diálogo constante com a história da arte, a literatura, a filosofia e a curadoria. Esse trajeto híbrido, molda a singularidade de sua obra. Não há nela impulso de ruptura, e sim consistência e método.


Sua técnica tem origem no pontilhismo, se desloca da tradição impressionista ao desenvolver camadas espessas de óleo que constroem volume, textura e vibração. Foram vinte anos de pesquisa, em que Lenny experimentou suportes, pigmentos, composições e modos de fazer até alcançar uma pintura que correspondesse ao seu olhar.



Díptico: A Magia da primavera_óleo sobre tela -  150x240 cm
Díptico: A Magia da primavera_óleo sobre tela - 150x240 cm

O dourado ocupa um lugar central em sua paleta. Essa escolha cromática atua com intensidade simbólica e sensorial. Em vez de reforçar apenas a superfície, essa cor conduz uma ideia de abundância que atravessa o visível e se expande para o campo do sensível. A relação com a energia está presente tanto na aplicação da cor quanto nos títulos das obras, que não seguem lógica descritiva, mas respondem a percepções internas e sutis. Em seu processo, as decisões visuais acontecem por aproximação intuitiva. A pintura se estrutura como linguagem que transmite, mais do que representa.


Os temas que percorrem sua pintura mantêm relação constante com o corpo e com a natureza, sem recorrer à figuração direta. Natureza, silhuetas femininas, traços orgânicos e estruturas geométricas convivem no mesmo campo visual, criando zonas de tensão e equilíbrio. A artista opera por síntese. Há um movimento entre contorno e dissolução, entre figura e abstração, que orienta a construção das telas. Sua geometria surge como resultado de um corpo que conhece a forma por dentro.




Díptico: A Espera_óleo sobre tela 120x 240 cm
Díptico: A Espera_óleo sobre tela 120x 240 cm

Desde 2019, Lenny Hipólito é representada pela UP Time Art Gallery, em São Paulo, com orientação curatorial de Marisa Melo. A partir dessa representação, consolidou-se não apenas um vínculo institucional, mas uma plataforma de desenvolvimento contínuo. A curadora acompanha de perto sua trajetória, estabelecendo com a artista um diálogo crítico e estruturado, orientando sua pesquisa visual e seus percursos expositivos.


Em 2023, Lenny passou a integrar como conselheira o projeto “História de Todas Nós, Mulheres”, que documenta a trajetória de artistas cuja força está na fidelidade à própria sensibilidade. A partir de 2025, tornou-se colunista do blog de arte, escrevendo sobre temas que orientam e fortalecem novos artistas. Ao escrever sobre Lenny, a curadora a descreve como a menina que não se perdeu de si, e talvez essa seja a síntese mais justa.


“O que mais admiro em Lenny é sua integridade estética. Ela não cede à tendência. Sua pintura exige entrega. Há uma coerência rara entre a mulher que ela é e a obra que constrói, ponto a ponto.”MM

Sua linguagem tem conquistado espaços de prestígio no Brasil e no exterior. Em abril de 2024, apresentou a exposição individual “Pontilhismo: Mosaicos da Alma”, na própria UP Time Art Gallery, com curadoria de Marisa Melo. A mostra reuniu obras inéditas, entre elas o díptico A Magia da Primavera, marcado pela paleta vibrante e pelo fluxo hipnótico das formas. A crítica destacou a sofisticação técnica e a densidade da obra, que demanda um olhar apurado do espectador para se revelar.



Exposição Lenny Hipólito_2024
Exposição Lenny Hipólito_2024


Exposição: Pontilhismo: Mosaicos da Alma de lenny Hipólito - Curadoria Marisa Melo_2024
Exposição: Pontilhismo: Mosaicos da Alma de lenny Hipólito - Curadoria Marisa Melo_2024

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Ainda em 2024, Lenny participou do Salon International D’Arte, em Bruxelas, apresentando a obra Encanto, uma fusão sutil entre o pontilhismo e o pós-impressionismo, conduzida por sua gramática visual. No mesmo período, recebeu o prêmio Maestra d’Arte, da Accademia Pontificia Tiberina de Roma, consolidando o reconhecimento internacional de seu trabalho.


Em 2025, Lenny estreou uma nova fase ao integrar, pela segunda vez, o prestigiado Modernos & Eternos BH, participando da 10ª edição do evento com uma galeria-instalação no espaço “Além do Olhar”. A curadoria de Marcos Esteves concebeu o ambiente como um oásis sensorial, propondo uma imersão poética e visual que articula obra e espaço. A disposição das pinturas e a relação entre luz, ritmo e cor criaram um percurso contemplativo, em sintonia com a linguagem da artista.


Para além das telas, Lenny também escreve, pesquisa e orienta outras trajetórias artísticas. Seu pensamento sobre arte está ancorado em valores éticos e existenciais. Durante a pandemia de 2020, compartilhou sua rotina de disciplina, estudo e meditação, reafirmando sua crença de que a arte é um espaço de elaboração íntima, não um palco. Sua prática não está a serviço da performance.


Lenny Hipólito não busca distração, sua obra se sustenta na recusa ao excesso e na construção de um campo, onde a atenção se desloca da superfície. Sua trajetória, longe de ser fragmentada, mantém uma linha entre pensamento e forma. A infância, o trabalho, a linguagem e o corpo constituem faces de uma mesma base. Em cada fase, ela preserva um compromisso com a integridade como orientação, não como ideal, mas como prática contínua.


Lenny Hipólito carrega a marca de um percurso construído com disciplina, intuição e consciência do tempo. Nada em sua obra apressa o olhar. Há um gesto que se sustenta pelo rigor da forma. Em vez de oferecer respostas, suas telas abrem espaço para a relação. O que permanece é o modo como essa linguagem se organiza a partir do essencial.


Marisa Melo

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