Como encontrar um tema sem cair em clichês
- Marisa Melo

- 26 de set.
- 2 min de leitura
Encontrar um tema não é escolher um assunto da prateleira, mas perceber aquilo que insiste em se apresentar no olhar do artista. Ele não surge como palavra de ordem nem como rótulo de tendência, mas como algo pequeno que ganha corpo: um detalhe repetido, uma imagem que retorna, uma questão que não se dissolve. O risco está em se apoiar em fórmulas já saturadas; a possibilidade, em reconhecer no banal a semente de um caminho singular.

A escolha de um tema é muitas vezes o primeiro impasse na trajetória do artista. A tentação é recorrer ao que parece mais seguro: identidade, memória, corpo. Embora sejam campos férteis, tornam-se frágeis quando abordados de forma superficial. O desafio está em ir além da repetição. Encontrar um tema não significa escolher uma palavra-chave, mas observar com atenção o que realmente chama atenção no cotidiano. Um detalhe da rua, um gesto familiar, uma sensação recorrente: esses elementos menores costumam carregar mais força poética do que grandes slogans. O que transforma uma ideia em clichê não é o tema em si, mas a forma como é tratado. Se o artista conseguir cavar singularidade no banal, já terá se afastado do raso. O tema nasce quando deixa de ser assunto e se torna investigação.
Como transformar experiência pessoal em linguagem estética
Todo artista parte de uma experiência íntima: uma memória, um afeto, um episódio marcante. O risco é permanecer preso ao relato pessoal, sem encontrar forma para partilhá-lo. A passagem da experiência para a linguagem acontece quando se busca um modo de torná-la legível sem perder profundidade. Uma lembrança de infância pode virar cor recorrente, ritmo de pincelada, escolha de material. A dor ou a alegria podem ser traduzidas em silêncio cromático, repetição de gesto, construção de vazio. O segredo está em converter o vivido em procedimento estético, e não em confissão direta. Quando o íntimo encontra uma forma compartilhável, torna-se arte. A experiência pessoal não precisa ser narrada: precisa ser transformada.
Como escrever sobre a própria obra sem repetir discursos prontos
A escrita sobre a obra é parte do trabalho artístico, mas muitos iniciantes caem na armadilha de reproduzir fórmulas. Palavras corriqueiras e gastas surgem com tanta frequência que perdem sentido. O desafio é escrever de forma simples, clara e honesta, sem jargões. Uma estratégia é começar descrevendo o que se vê: cores, materiais, gestos. Depois, situar essas escolhas em relação a um interesse: “uso o azul porque me remete ao horizonte”, “trabalho com papel reciclado por sua fragilidade”. Essa combinação de descrição e intenção constrói um texto que sustenta a obra sem cair em repetições do mercado. Escrever sobre a própria prática é também um exercício de autoconhecimento: nomear o que se faz ajuda a perceber o que realmente importa no percurso.
Se você deseja aprofundar sua pesquisa, escrever sobre sua obra com consistência ou organizar uma coleção que reflita escolhas críticas, disponibilizo consultoria em arte. A partir de um olhar curatorial, ajudo a transformar temas, experiências e processos em caminhos sólidos e duradouros.


