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Arte é trabalho: o que todo artista precisa saber sobre precificação, contrato e profissionalização

  • Foto do escritor: Marisa Melo
    Marisa Melo
  • 4 de ago.
  • 3 min de leitura

Exposição Lenny Hipólito - UP Time Art Gallery_2024
Exposição Lenny Hipólito - UP Time Art Gallery_2024


Ainda há quem romantize o ofício artístico como se fosse vocação, desvinculada das exigências do mundo concreto. A figura do artista como gênio intuitivo, imune à lógica do mercado e alheio a qualquer compromisso prático, ainda circula em muitos discursos. Mas para quem escolheu sustentar a arte como ofício, não basta apenas produzir. É preciso profissionalizar. Entender o valor do próprio trabalho, definir critérios justos de precificação, formalizar acordos e reconhecer que ser artista exige muito mais do que talento.


Nenhuma criação se mantém apenas pela inspiração. Existe tempo investido, material utilizado, estudo acumulado, pesquisa contínua. Cada obra carrega horas de elaboração que não estão visíveis na superfície, mas fazem parte de seu custo real. Precificar uma peça não é apenas atribuir um número arbitrário. É reconhecer o processo. É incluir, com honestidade, o valor simbólico e também o valor de produção. Ignorar isso é aceitar a desvalorização do próprio ofício e reforçar um sistema que ainda trata a arte como algo acessório.


Há critérios objetivos que podem nortear esse cálculo: valor por hora de trabalho, investimento em materiais, trajetória do artista, exclusividade da obra, tamanho, técnica e reconhecimento de mercado. Mas nenhum desses critérios funciona isoladamente. É o conjunto que define uma estrutura sólida. E é essa estrutura que oferece consistência ao percurso profissional do artista, impedindo que ele dependa exclusivamente da opinião alheia ou da sazonalidade das tendências.


Profissionalizar é, também, formalizar. Contratos não são burocracia vazia, mas ferramentas de proteção. Um contrato bem redigido define responsabilidades, garante pagamentos, estabelece prazos e evita conflitos futuros. Quando um artista deixa de formalizar seus acordos, ele se coloca em posição vulnerável. O que hoje parece informalidade pode, amanhã, se transformar em prejuízo. Exposições, vendas, licenciamento de imagem, comissionamentos: tudo precisa ser documentado. O cuidado com a palavra escrita é sinal de maturidade profissional.


A organização administrativa também faz parte da rotina de quem vive de arte. Emitir nota fiscal, manter controle sobre obras vendidas, planejar sua agenda de produção e exposição, desenvolver portfólio atualizado, entender a legislação relacionada ao setor cultural. São tarefas que não substituem a criação, mas garantem sua continuidade. Um artista que conhece seus direitos e deveres está mais preparado para lidar com o sistema da arte sem se perder em suas armadilhas.


Além disso, o modo como o artista se posiciona influencia diretamente sua credibilidade. Profissionalismo não tem relação com frieza, mas com clareza. Ser pontual, cumprir prazos, comunicar com objetividade, apresentar propostas bem estruturadas, são atitudes que reforçam o respeito ao próprio trabalho e àqueles com quem se colabora. Um artista não precisa agradar, mas precisa ser claro. Essa clareza é o que define relações éticas e produtivas no circuito.


É preciso romper com a fantasia de que a arte não se mistura com dinheiro. Toda criação que deseja circular precisa, em algum nível, lidar com ele. E isso não reduz sua potência. Pelo contrário. Quando o artista entende os aspectos econômicos que envolvem sua prática, ele amplia suas possibilidades. Passa a decidir com mais liberdade, a negociar com mais autonomia.


Profissionalizar a arte é permitir que ela siga existindo fora da exceção. É compreender que o fazer artístico tem valor, tem custo, tem demanda. E que esse valor precisa ser comunicado com precisão. A precificação justa, os contratos claros e a postura ética não retiram a beleza da arte. Apenas reafirmam sua dignidade. A arte, como qualquer outro trabalho, precisa ser respeitada em todas as suas dimensões. Inclusive nas mais práticas. Porque criar é também sustentar. Não apenas a ideia, mas o ofício.



Marisa Melo



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