Jackson Pollock | Passaporte para a Imortalidade
- Marisa Melo

- 4 de abr. de 2023
- 3 min de leitura
A Arte é o espelho da nossa alma. Dorian Gray e Fausto retratam sonhos: beleza, prazer, sabedoria... Oscar Wilde e Goethe souberam captar nosso íntimo, retratar suas épocas e entraram para a História. Esse é o poder da folha, da partitura e da tela em branco. Elas não esperam apenas mais um texto, mais uma canção, mais um quadro. Diante delas, um inglês escreveu “Ser ou não ser”. Um alemão combinou quatro notas mágicas em sua 5ª. Sinfonia. E um italiano pintou um sorriso enigmático. Passaram-se os séculos. E Shakespeare, Beethoven e da Vinci seguem vivos e reverenciados. Nenhum deles planejou isso. Mas ao traduzirem suas almas em suas obras, conquistaram um passaporte para a imortalidade. Quando essa entrega acontece, o observador é conquistado. E aplaude um estilo, que buscará avidamente no próximo quadro. Até criar uma intimidade que lhe permita em segundos relacionar a obra ao autor.
Vamos conversar sobre alguns artistas e seus estilos inconfundíveis.
Hoje conosco, Jackson Pollock.

Jackson Pollock nasceu em 1912, em Cody, Wyoming, e cresceu em diferentes cidades do oeste americano, sempre cercado pela dureza da vida e pelas mudanças constantes de sua família. Desde cedo, enfrentou dificuldades pessoais e crises emocionais, mas também foi exposto a influências artísticas que moldariam sua trajetória. Em Nova York, estudou com Thomas Hart Benton e conheceu as vanguardas europeias, como o cubismo e o surrealismo, que o estimularam a buscar uma linguagem própria.
Foi no final da década de 1940 que Pollock encontrou sua voz definitiva: o dripping. Em vez de usar cavalete e pincel, espalhava grandes telas no chão e, com gestos corporais, deixava a tinta escorrer, pingar e respingar em movimentos ritmados. Cada quadro era resultado de uma dança, de uma coreografia visceral entre corpo e matéria. Essa técnica não apenas rompia com a tradição, mas transformava o processo em parte essencial da obra. Pollock pintava com o corpo inteiro, convertendo o ato de pintar em performance antes mesmo de o termo ganhar espaço no vocabulário da arte.
Suas telas monumentais, como Autumn Rhythm ou Convergence, não possuíam um centro ou hierarquia. O olhar do observador não encontra descanso, mas se perde em tramas de linhas, manchas e cores que parecem infinitas. É uma pintura que não representa algo fora de si: é pura energia, registro direto de uma presença, de um gesto irrepetível. Nesse sentido, Pollock reinventou a pintura como acontecimento, fazendo da tela um campo de ação.

Apesar do reconhecimento, Pollock viveu intensos conflitos internos, agravados pelo alcoolismo e por crises pessoais. Sua vida foi marcada pela luta entre a consagração pública e a dificuldade de lidar com a própria fragilidade. Morreu em 1956, em um acidente de carro, aos 44 anos, deixando para trás uma produção curta, mas revolucionária.
A crítica o consagrou como símbolo do expressionismo abstrato americano e de uma nova era na arte, em que Nova York substituiu Paris como centro mundial. Seu trabalho abriu caminho para pensar a pintura como espaço de liberdade total, sem regras, sem convenções, apenas a energia do gesto e a presença do artista diante da matéria.
Pollock conquistou seu passaporte para a imortalidade ao transformar a pintura em campo de ação, um espaço onde corpo, matéria e energia se encontram em estado de intensidade máxima. Mais do que telas, deixou paisagens de movimento que marcaram a virada histórica em que Nova York assumiu o lugar de capital artística do mundo. Sua obra não sobrevive apenas pelo impacto estético, mas porque abriu caminhos para todos os que ousaram compreender a pintura como acontecimento e não como representação.
Marisa Melo







