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A Montanha como Espelho: o rito silencioso da essência


"Em Busca da Essência" - Acrílica sobre tela_60x80 cm/2025
"Em Busca da Essência" - Acrílica sobre tela_60x80 cm/2025

O escritor José Saramago dizia que “é preciso sair da ilha para ver a ilha”, lembrando que só ao nos distanciarmos de nós mesmos conseguimos enxergar o que, por tanto tempo, ficou encoberto. Essa é uma das sensações despertadas pela obra Em Busca da Essência, de Dani Xavier. A artista constrói uma paisagem que nos convida a percorrer um caminho interno, onde a pintura revela, e onde o olhar encontra espaço para se reconhecer sem pressa.


Trata-se de uma composição em tinta acrílica sobre tela, mede 60 x 80 cm e foi criada em 2025. A cena se organiza sob um céu escuro, pontuado por elementos que podem ser estrelas ou flores. Um caminho em ziguezague conduz duas figuras claras até o interior de uma montanha dourada. Não há literalidade. O que se vê é uma imagem construída com intenção, onde a artista trata de um mergulho pessoal, de um reencontro com a própria luz.


Dani trabalha com uma linguagem que flerta com o onírico, mas não se perde em abstração. Suas pinceladas têm movimento, ritmo emocional, uma vibração que lembra o expressionismo lírico. As cores não decoram, elas conduzem. O dourado não remete à ideia de transmutação. O azul profundo atua como campo de memória. Os tons florais no primeiro plano, em vermelho, rosa, lavanda e branco, evocam um território fértil, interno, em construção.


A composição evita linhas retas. O caminho é feito de curvas, espirais, texturas que orientam o olhar sem forçar. Tudo flui, nada trava. O rio, a montanha, o corpo, tudo sugere passagem. O centro da obra não está na tela, mas no instante em que a figura emerge da montanha, mais leve, mais ereta, quase translúcida. Ao lado dela, uma rosa solitária marca o tempo certo de florescer, sem pressa, sem disfarces.


A luz não vem de fora. Ela parte das figuras. Não há contraste dramático nem sombras duras. Há aura. E essa escolha reforça a proposta central da obra: o autoconhecimento como iluminação interna, íntima, não performativa.


Mas é no não dito que a obra se sustenta com mais força. As figuras não têm rosto, não oferecem respostas, apenas espaço. Os montes não são barreiras, são portais. A artista não força interpretações. Ela constrói uma cena que pede escuta visual, que respeita o invisível. Não há excesso. Há intenção.


Dani Xavier entrega uma pintura que exige do observador disponibilidade. É uma obra que não se impõe, mas também não se retira. Ela permanece. E permanece porque toca num ponto essencial, o de lembrar quem fomos antes das máscaras, dos nomes, das urgências.


A pintura não dramatiza, não idealiza, não suaviza. Apenas revela. Como uma oração contida. E, por isso mesmo, ressoa.

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