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Quando recusar uma exposição

Atualizado: 24 de set.

Marisa Melo
Marisa Melo

Dizer não protege linguagem e agenda. Depois de mais de 30 anos no mercado e com inúmeras exposições curadas no Brasil e na Europa, aprendi que aceitar toda proposta é a maneira mais rápida de diluir um percurso. Uma negativa clara e bem fundamentada preserva ritmo de produção, consistência de portfólio e saúde do projeto curatorial. O objetivo é simples, alinhar oportunidade a propósito. Quando isso não acontece, o melhor é declinar com elegância, oferecer alternativa e deixar a porta aberta para um futuro possível.



Critérios que importam

Tempo, a primeira triagem. Calendário apertado costuma gerar soluções apressadas, textos ruins, montagem frágil, comunicação irregular. Se o prazo não permite cumprir etapas mínimas, conceito fechado, seleção coerente, checklist técnico, logística, texto e fotos, a resposta ideal é não. Tempo adequado é parte da obra, sem ele a mostra perde medida.


Orçamento, a base do real. Exposição tem custos objetivos, transporte, seguro, moldura, impressão, fotografia, montagem, comunicação, equipe. Sem orçamento compatível, a curadoria vira gestão de carência. Ajustes são possíveis, formatos menores, número reduzido de obras, materiais simples, calendário alternativo, mas abaixo de um piso técnico a proposta deixa de ser exequível. Recusar, nesse caso, protege o trabalho e a reputação de todos.


Coerência, o centro crítico. Nem todo convite combina com a linguagem de um artista ou com a pesquisa de um espaço. Forçar encaixe por conveniência enfraquece as duas pontas. Coerência envolve tema, público, histórico do lugar, momento da carreira, expectativa de desdobramentos. Se a mostra não conversa com a fase atual do artista ou contradiz o programa curatorial, a recusa é a decisão responsável.


Contrato, o filtro de seriedade. Acordo por escrito não é formalidade, é garantia de pauta, cronograma, responsabilidades, direitos de imagem, políticas de venda, devolução de obras, seguros, cancelamentos e créditos. Proposta sem contrato claro costuma gerar conflito. Se a outra parte resiste a formalizar, agradeça, recuse e siga em frente. Nada substitui um documento simples e objetivo.


Alternativa, o caminho do meio. Nem toda recusa precisa ser ponto final. Quando a proposta é boa, mas o calendário é inviável, sugira nova data. Quando o orçamento é curto, proponha versão reduzida. Quando o tema é interessante, mas o espaço não favorece, indique local mais adequado. Recusar com alternativa demonstra profissionalismo e preserva a relação.


Proposta futura, a janela aberta. Um não bem sustentado pode virar um sim melhor. Registre os motivos da recusa, combine uma revisão em seis meses, envie dossier atualizado, compartilhe critérios, mantenha o contato aquecido. Carreira é maratona. Parcerias maduras nascem de expectativas alinhadas e conversas que continuam.



Como decidir, um roteiro rápido


  1. Objetivo, a proposta reforça a linguagem do artista e a linha curatorial

  2. Calendário confirmado, com prazos possíveis para produção e comunicação

  3. Orçamento compatível com a lista técnica e a logística

  4. Contrato enviado e coerente com as responsabilidades de cada parte

  5. Desdobramentos plausíveis, catálogo, itinerância, coleções, imprensa, rede



Se duas ou mais respostas forem negativas, recusar é o melhor para o projeto. Se uma resposta for parcialmente positiva, ajuste o escopo ou reprograme. Se tudo estiver verde, avance. O não que fortalece!


Ao recusar, mantenha clareza e respeito. Explique o motivo principal em poucas linhas, tempo insuficiente, orçamento incompatível, proposta desalinhada. Agradeça o convite, ofereça uma alternativa viável, anote em agenda um retorno com data. Encaminhe materiais profissionais, biografia, imagens, texto curto, para que a conversa siga em outro formato. Um não bem dado educa o ecossistema, evita retrabalho e cria reputação de seriedade.



Quando o sim atrapalha

Aceitar para “marcar presença” quase sempre custa caro. Mostras mal planejadas drenam energia, geram imagem inconsistente e ocupam espaço de calendário que poderia ser dedicado a projetos mais estratégicos. Em vez de somar, subtraem. Depois de décadas trabalhando com artistas e instituições, vi muitas carreiras desorganizarem-se por excesso de eventos sem prioridade. Editar é parte do ofício. Dizer não é editar.



O que oferecer em troca

Quando a proposta merece cuidado, mas não cabe no agora, três caminhos funcionam:


  • Ensaio curatorial reduzido, poucas obras, texto preciso, foco em uma ideia, custos sob controle

  • Residência curta ou open studio, processo em vez de mostra formal, encontros programados, conteúdo para portfólio

  • Mesa de conversa e dossier, apresentação crítica da pesquisa, captação de parceiros para a futura exposição


Essas variações preservam o vínculo, geram material e constroem terreno para um sim estruturado no momento correto.



Recusar uma exposição é um ato de gestão. Protege linguagem, agenda e orçamento, preserva reputação e cria condições para projetos melhores. Com mais de 30 anos de mercado, sigo a mesma régua, tempo, orçamento, coerência, contrato, alternativa, proposta futura. Quando esses pontos se alinham, o sim chega forte e sereno. Quando não se alinham, o não é a forma mais inteligente de seguir adiante.



Explore outros textos no Blog de Arte e acompanhe os projetos em movimento na Galeria. Para informações sobre mentorias e linguagem visual, visite a página de Programas.



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