Para onde vai o mercado de arte? Tendências, desafios e oportunidades
- Marisa Melo
- há 2 dias
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A cena artística não é mais a mesma. Quem vive o mercado de arte já entendeu que as regras mudaram, os públicos mudaram e o modo como nos relacionamos com a arte também. Nesse cenário de transformações, ser galerista é estar em constante adaptação. É preciso entender o tempo presente sem abrir mão da consistência que só os anos de experiência oferecem.
Falo com a autoridade de quem está há mais de 30 anos nesse mercado, acompanhando gerações de artistas, ciclos econômicos, transformações estéticas e mudanças de comportamento. Minha trajetória como galerista é marcada por constância e presença internacional. São eventos que exigem preparo, critério e visão estratégica, e que ampliam não só o alcance dos artistas que represento, mas também consolidam a relevância da minha curadoria no cenário global.
O que os colecionadores realmente procuram hoje
Depois da pandemia, o mercado ganhou novas rotas. O digital se impôs, mas o desejo pelo contato direto, pela presença física diante da obra, voltou com força. As feiras estão cheias, os ateliês abertos, as visitas voltaram a ser agendadas com entusiasmo. Mas agora há algo diferente no ar: o olhar do público está mais exigente, e mais disposto a perguntar o porquê de cada escolha.
Há uma nova geração de colecionadores que não está interessada apenas em nomes consagrados ou em apostas de valorização futura. Eles querem conexão, querem história, querem ver sentido na parede. É por isso que a curadoria precisa ser cada vez mais acessível e pedagógica. O papel da galeria não é apenas vender, é mediar, formar, acompanhar. O tempo da autoridade distante já passou. Hoje, é preciso construir vínculos reais.
Entre as tendências mais visíveis está a valorização de artistas mulheres, racializados e LGBTQIA+. Também se nota um movimento de retorno à pintura, como se a tela recuperasse seu fôlego depois do ciclo das NFTs. As narrativas identitárias, os gestos manuais, os processos autorais ganham força em meio a um mundo saturado de imagens rápidas e descartáveis.
Represento artistas que traduzem em suas obras justamente esse momento do mercado: uma pintura contundente e com vocabulário próprio. Suas produções dialogam com o que há de mais atual, sem perder o rigor técnico nem a dimensão poética. São nomes que crescem com solidez porque há curadoria, diálogo e planejamento.
Para quem trabalha com arte há décadas, como eu, o desafio é manter a coerência e, ao mesmo tempo, seguir pulsando com o presente. Não dá para ignorar o poder das redes sociais, a força do Instagram, a importância do SEO e da presença digital. Quem ainda despreza isso está perdendo espaço e deixando de conversar com uma geração inteira.
Selecionar artistas hoje exige olhar técnico e tempo. O artista não precisa estar pronto, mas precisa estar comprometido. Recebo muitos portfólios e propostas, e sempre busco identificar não apenas qualidade e linguagem, mas também ética profissional, abertura ao diálogo, clareza de trajetória e disposição para o amadurecimento.
A curadoria também precisa ter responsabilidade. Não se trata de abrir portas para todos que batem, mas de saber filtrar com generosidade, entender o que há de legítimo, orientar o que precisa de tempo, recusar com respeito e acolher com ética. Há uma diferença entre acolher e prometer. Uma galeria séria forma, orienta e sustenta seus compromissos.
O que está em jogo é mais do que vender arte. É sustentar um espaço de confiança, onde artistas possam crescer com consistência e colecionadores possam investir com prazer e segurança. O mercado está mais exigente, e isso é bom. Isso nos obriga a fazer melhor.
Por isso, o meu convite é claro: se você é artista e quer construir uma trajetória com solidez, ou se é colecionador e deseja ampliar seu acervo com propósito, se aproxime. A arte não é apenas uma imagem bonita na parede. É uma escolha de vida.
E o mercado? O mercado vai para onde a arte real e honesta for. E eu sigo com ela.