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Júlia d’Paula: a poesia das cores nascida no coração do Tocantins

Atualizado: 8 de jun.



Histórias de Todas Nós Mulheres é um espaço para registrar vivências reais. Cada história contada não representa apenas uma pessoa, mas traz marcas de muitas outras. O foco está nas mulheres que, com suas escolhas e ações, constroem caminhos com coragem.


Júlia d’Paula, artista plástica do Tocantins, tem 16 anos e já compreende a arte como parte da vida. Sua relação com a pintura começou cedo e não veio como distração, mas como forma de se posicionar no mundo. Neste relato, ela compartilha como essa prática surgiu, se desenvolveu e segue como linguagem para expressar o que pensa e sente, com clareza.


Júlia d'Paula_foto divulgação
Júlia d'Paula_foto divulgação

Há artistas que amadurecem cedo, não porque o tempo apressa, mas porque o chamado da arte chega antes mesmo da consciência do que se está fazendo. Assim é com Júlia d’Paula, uma jovem artista plástica tocantinense que, aos 16 anos, já carrega consigo uma história rara de entrega e expressão.


Sua relação com a pintura começou antes mesmo das palavras ganharem peso. Aos quatro anos, trocava com naturalidade as bonecas pelos pincéis, preferia as tintas às brincadeiras de casinha, e mergulhava nos desenhos como quem encontrava ali um abrigo. Sua mãe conta que era sua atividade preferida, um ritual diário que nascia da espontaneidade e se tornaria, com o tempo, o eixo de sua existência.


Há meninas que chegam ao mundo já carregando uma luz própria, como se soubessem, desde muito cedo, que vieram para deixar rastro. Júlia é uma dessas presenças raras. Seu sorriso é desses que conquista sem esforço, seu jeito é leve.


Tudo começou quando ela ainda tinha quatro anos. Estava no escritório da mãe, onde já se movimentava com desenvoltura entre computador e impressora. Selecionou sozinha a imagem de um porquinho, imprimiu, pintou com tintas e ofereceu de presente. A mãe percebeu na escolha de cores e na forma de compor algo que ia além da curiosidade infantil. Viu um sinal de interesse real. Começou a oferecer materiais, incentivar a liberdade criativa e cercá-la de livros. Criou em casa um ambiente propício para que Júlia pudesse desenvolver sua própria maneira de pensar e criar.



Porquinho: O começo de tudo (Júlia com 4 anos)
Porquinho: O começo de tudo (Júlia com 4 anos)


Entre os quatro e os doze anos, Júlia pintava com frequência e entusiasmo. Nessa fase da infância, surgiram personagens que faziam parte do seu dia a dia: Elsa, Ariel, Bob Esponja, os Minions, Pikachu. Mesmo nesses temas infantis, era possível notar atenção à composição, às cores e às escolhas visuais.


Além da pintura, Júlia também fazia balé. As bailarinas que apareciam em suas telas refletiam essa vivência com o corpo. Havia leveza e movimento, com naturalidade. Ela não copiava modelos nem seguia instruções. Pintava o que sentia, com liberdade e autonomia.





Ao lado da mãe, da avó e da bisavó, aprendeu também a amar as plantas. Esse amor, transmitido como herança, virou cor em suas telas. Pintou muitas plantas, entendendo, que elas não apenas embelezam os ambientes, mas também as almas. A natureza, em Júlia, sempre esteve ligada ao cuidado, ao sagrado.


Em 2018, a vida costurou uma página dolorosa e, ao mesmo tempo, milagrosa na história da família. Um gravíssimo acidente de carro colocou mãe e filha diante do que poderia ter sido o fim. Mas o que ficou foi a fé. Saíram ilesas. E debaixo do carro, intacta, encontraram a imagem de Nossa Senhora que acompanhava a família. Júlia, ainda tão jovem, soube transformar esse episódio em pintura. Registrou em tela a figura da Virgem, como expressão de gratidão. Mais uma vez, a arte serviu para costurar a vida, para guardar aquilo que o coração não podia esquecer.



Quando Júlia pintou essa imagem de Nossa Senhora, ela ainda era pequena demais para entender tudo o que havia acontecido, mas sentia. Sentia que algo muito importante tinha protegido sua família, e que pintar era sua forma de guardar esse sentimento. Não usou palavras difíceis, nem pensou muito: apenas pegou os pincéis e deixou que a lembrança falasse através das cores. Foi com o coração de criança que ela desenhou aquele olhar de cuidado, aquela luz suave que envolve o Menino, aquele campo florido que parece um sonho bom. Pintar, naquele momento, era como brincar de agradecer. E Júlia, mesmo sem entender tudo, entendeu o essencial.
Quando Júlia pintou essa imagem de Nossa Senhora, ela ainda era pequena demais para entender tudo o que havia acontecido, mas sentia. Sentia que algo muito importante tinha protegido sua família, e que pintar era sua forma de guardar esse sentimento. Não usou palavras difíceis, nem pensou muito: apenas pegou os pincéis e deixou que a lembrança falasse através das cores. Foi com o coração de criança que ela desenhou aquele olhar de cuidado, aquela luz suave que envolve o Menino, aquele campo florido que parece um sonho bom. Pintar, naquele momento, era como brincar de agradecer. E Júlia, mesmo sem entender tudo, entendeu o essencial.

Hoje, aos 16 anos, Júlia d’Paula já acumula mais de 200 obras, seis exposições individuais e participações em coletivas no Brasil e no exterior, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Madrid, Osaka, Varkaus, Bruxelas. Uma trajetória impressionante não apenas pelos feitos, mas pela maneira, firme e cheia de sentido com que tudo floresceu.


Nascida no Tocantins, um estado de calor intenso e alma generosa, mas historicamente fora do circuito tradicional das artes, Júlia carrega em si tanto o desafio quanto o orgulho de representar sua terra. Ela sabe que ser artista em um país como o nosso é uma travessia. Ser mulher, jovem e vinda de uma região ainda invisibilizada, torna essa travessia ainda mais exigente. E é justamente essa consciência que a impulsiona a seguir criando, investindo ainda mais no seu talento.


Seus quadros são vibrantes como o sol que ilumina o Cerrado. Trabalha com tinta a óleo e carvão, mas é na espátula que seu gesto se mostra mais livre, mais sincero. Seu espatulado é forte sem ser bruto, é denso sem ser pesado. A textura não serve apenas ao olhar, mas ao sentir.


Inspirada por Van Gogh, Júlia encontrou sua própria voz, uma pintura que não busca agradar, mas tocar. Suas aves, tucanos, araras, pequenos pássaros em voo, não são apenas belas. Elas representam liberdade. A liberdade de ser artista, de ser mulher, de ser quem se é sem pedir permissão.




Leitura sensível de uma obra da infância de Júlia d’Paula
Leitura sensível de uma obra da infância de Júlia d’Paula

O reflexo do sentir: a paisagem que Júlia trouxe do coração


É difícil acreditar que esta tela tenha sido criada por uma criança tão pequena. Mas ao mesmo tempo, ao olhá-la com cuidado, tudo faz sentido, porque há obras que não precisam de idade, apenas de verdade.


Nesta composição feita entre os seus quatro e oito anos, Júlia pinta uma paisagem que pulsa com a vibração da natureza. O céu respira em tons delicados, as montanhas ondulam suavemente ao fundo, e as árvores explodem em cor, um amarelo-ouro que quase canta e um roxo vibrante que lembra os ipês floridos do cerrado. Há uma harmonia intuitiva entre os elementos, como se tudo tivesse sido colocado no lugar certo por sensibilidade.


O que salta aos olhos é a paleta: viva, intensa. O amarelo do ipê domina a cena como um sol, aquecendo a margem do riacho e tingindo sua superfície líquida com reflexos dourados. O roxo do outro lado da tela equilibra a composição como um contraponto poético, enquanto o verde, abundante e vibrante, costura a paisagem com vida. A casinha ao centro parece brotar do chão, como parte da natureza. Há aconchego. Há infância.



É por isso que esta obra, nascida na primeira infância, é, para mim, Marisa Melo, que tenho a honra de contar sua história, uma das mais emblemáticas de sua trajetória. Confesso, me comovi o tempo todo enquanto escrevia. Achei que já conhecia tudo sobre ela, mas não. Esta pintura carrega a semente de tudo o que viria depois: o uso intuitivo da cor, a composição afetuosa, a presença da natureza, a quietude luminosa de suas paisagens interiores. Júlia d’Paula, mesmo menina, já era artista. E nesta tela, o tempo nos permite ver, com clareza, a gênese de sua luz.

“Fazer parte do projeto História de Todas Nós Mulheres vai além de uma homenagem. É reconhecer que pertenço a uma trajetória de mulheres que criaram seus próprios caminhos. Nossa história é feita de fé, superação e de uma força que só aumenta com o tempo.” — Júlia d’Paula


Ela ainda é jovem, sim. Mas isso não define sua grandeza. Sua arte tem densidade. Júlia é a prova viva de que o talento verdadeiro não espera a maturidade para florescer. Ele apenas se deixa burilar, como um diamante que a vida esculpe sem pressa.


Do Tocantins para o mundo, Júlia nos oferece beleza, coragem e a certeza de que a arte também é uma forma de rezar, agradecer e florir.

E ela floresce. Com o coração cheio de histórias, com o pincel cheio de fé.



História de Todas Nós Mulheres_edição 2025



Saiba mais:

Instagram: @juliadpaulaartista




Se você também tem uma história de superação e transformação através da arte, queremos conhecê-la. O projeto "Histórias de Todas Nós, Mulheres" é um espaço para celebrar narrativas reais de força e resiliência. Compartilhar sua trajetória pode inspirar outras mulheres a enxergarem a beleza em seus próprios processos de reconstrução. Porque quando uma mulher encontra sua voz, ela abre caminhos para tantas outras. Venha fazer parte desse movimento. Sua história merece ser contada.


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