Crítica |Série “Aterrar”, de Dani Xavier
- Marisa Melo

- 17 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de set.

Há obras que não buscam representar o visível, mas revelar o invisível que pulsa por trás da superfície. A pintura, quando se abre ao gesto e à repetição, cria um espaço de conexão que vai além da forma imediata e alcança a percepção do tempo, do ritmo e da experiência sensível. É nesse sentido que se insere a série “Aterrar”, de Dani Xavier, em que a artista explora o potencial da pintura como ato meditativo e como construção de paisagem interior.
Dani Xavier traz para sua produção uma trajetória que se alimenta da observação da natureza e da vida cotidiana, traduzindo a necessidade de criar pontos de ancoragem em meio à instabilidade do mundo. Sua pesquisa revela uma artista que não se limita à busca estética, mas que articula a prática artística como forma de investigação da matéria, do gesto e da permanência da cor. Ao longo do tempo, Dani experimentou diversas técnicas, mas é na pintura acrílica sobre papel que encontra um terreno fértil para experimentar a densidade das camadas, e a repetição de formas que sugerem tanto elementos naturais quanto abstrações orgânicas.



Na série “Aterrar”, o título já anuncia a intenção: criar um ponto de contato, de aterramento, entre o corpo, o olhar e o espaço. O que se vê são campos marcados por pinceladas repetidas, circulares ou retangulares, que criam ritmos visuais próximos ao movimento da respiração. Tons terrosos, amarelos queimados, ocres, marrons e alaranjados dominam a paleta, remetendo à textura do solo, à fertilidade da terra e à materialidade do orgânico. Essa escolha cromática, consistente em toda a série, não apenas reforça a unidade do conjunto, mas também cria a sensação de imersão em uma atmosfera quente, e quase tátil.
O estilo de Dani Xavier se constrói pela repetição como linguagem. O gesto, aparentemente simples, se torna estrutura, criando composições que oscilam entre o aleatório e o planejado. Ao olhar de perto, cada pincelada tem uma individualidade própria; ao afastar-se, o conjunto se transforma em espaço homogêneo, em trama que envolve o espectador.
As obras da série também podem ser lidas como metáforas de ciclos. Em algumas, os pontos parecem se agrupar em nuvens, sugerindo constelações ou aglomerações orgânicas. Em outras, a variação de tonalidades cria a impressão de movimento, como se o espaço estivesse em transformação constante. Há ainda aquelas em que o gesto se organiza em linhas sinuosas, sugerindo o fluxo da água ou das raízes subterrâneas. Essa diversidade de ritmos dentro da unidade dá ao conjunto uma riqueza visual que reforça a ideia de “Aterrar” não como fixação, mas como processo dinâmico de enraizamento.
No conjunto, as obras ocupam um lugar de respiro. Sua produção mostra técnica e poética, construindo uma linguagem que, embora se apoie na repetição e na economia cromática, alcança grande potência expressiva. A série “Aterrar” aponta para caminhos futuros, em que a artista poderá expandir ainda mais sua reflexão sobre natureza e ritmo.
Saiba mais sobre Dani Xavier:
Instagram: artista_daniela_xavier
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