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O que não cabe na ficha técnica

  • Foto do escritor: Marisa Melo
    Marisa Melo
  • 6 de jun.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 18 de jul.

Antes de ser nome, fui mulher — 2021, p. 39_MM
Antes de ser nome, fui mulher — 2021, p. 39_MM

O medo da tela em branco.

A lágrima que caiu antes da primeira pincelada.

O silêncio de dias inteiros

sem conseguir criar.


O filho chamando no meio do traço.

A mãe doente,

o corpo cansado,

as contas no fim do mês.


A raiva que virou cor.

A saudade que manchou o fundo.

A culpa de ter parado,

a coragem de ter voltado.


Não cabe ali o susto da primeira venda,

nem o nó na garganta ao se ver numa parede alheia.

Não cabe o amor que se perdeu no processo,

nem a pele que rachou de tanto tentar.


A ficha técnica fala de medidas,

técnica, suporte, ano.

Mas não diz da espera,

da recusa,

do quase-desistir.


Não registra o cheiro do ateliê,

as unhas sujas de tinta,

a música que tocava quando tudo finalmente fez sentido.


Não diz que a artista chorou depois da abertura,

que se sentiu vazia,

que pensou em sumir,

que voltou no dia seguinte.


Na ficha técnica não cabe a vida.

Só a obra.

E mesmo assim,

ela nunca está sozinha.



Marisa Melo


"Escrevo para não desaparecer. Se algo em mim tocou algo em você, então já não estamos tão sós. " MM

 






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