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Tarde demais é uma hora morta

Desencanto Lúcido — 2019, p. 64_MM
Desencanto Lúcido — 2019, p. 64_MM

Vivemos como se a vida fosse elástica. Como se o amor suportasse ser adiado, como se o perdão pudesse esperar, como se os encontros marcados com a alma não tivessem prazo de validade. Mas têm. Há afetos que expiram. Há palavras que, quando ditas tarde demais, já não tocam. E há gestos que perdem sentido se não forem feitos quando ainda há calor.


"Tarde demais é uma hora morta. Não é lá que devemos deixar florescer nossos sonhos." A frase de Martha Medeiros é prática. Real. Direta. Tarde demais é o espaço onde tudo que poderia ter sido já não tem mais como ser. É quando o tempo já se fechou, e qualquer tentativa não responde mais.


Tenho pensado no quanto a gente adia. No quanto empurra conversas importantes, afasta gestos essenciais, posterga presenças que poderiam ter mudado tudo. Às vezes por medo. Às vezes por vaidade. Às vezes por pura arrogância de achar que o tempo estará sempre disponível.


Mas o tempo não espera. Ele anda, mesmo quando a gente para. E quando resolve fechar uma porta, fecha sem aviso. Sem recado. Quando você percebe, o outro já não está mais. Ou pior: ainda está, mas já não te reconhece.


Nada floresce depois do tempo. É bonito imaginar que o amor suporta tudo, que as conexões profundas sobrevivem a qualquer ausência, que a amizade resiste ao descuido. Mas não é sempre assim. Algumas relações precisam de manutenção. De verdade em estado bruto. Quem ama, cuida a tempo.


Tarde demais é quando o café já esfriou. Quando a porta foi trancada por dentro. Quando o recado não é mais bem-vindo. Quando o abraço é recebido por educação, não por desejo. E a gente sente. Sente quando chegou depois.


Por isso, não deixo mais para depois o que ainda pulsa agora. Se é para dizer, eu digo. Se é para pedir desculpas, eu peço. Se é para demonstrar afeto, eu demonstro. Mesmo que não venha retorno. Mesmo que doa. Prefiro a dor da entrega à dor da omissão.


E se um dia eu partir, como todos partiremos, quero ir sem ter colecionado covardias. Quero partir como quem soube encerrar o capítulo no parágrafo exato, sem vírgulas em aberto, sem palavras a mais. Que não deixei gestos importantes mofando na prateleira do “um dia”.


O tempo é um critério. Ele seleciona o que sobrevive e o que desaparece. E quando ele diz que acabou, acabou. É por isso que acredito: o amor precisa ser dito com pressa. O perdão precisa ser oferecido ainda com o coração batendo forte. A presença precisa acontecer antes que vire lembrança.


Porque uma coisa é certa: depois do tempo, tudo o que resta é tarde demais. "E tarde demais é uma hora morta." Martha Medeiros


Marisa Melo


Os textos que compartilho são trechos que não coube no gesto. São cartas íntimas entre mim e o mundo, escritas com alma, bisturi e batom...


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