ORIGEM: Natan D'Sampa Reescreve a História Indígena das Américas com Força e Reverência
- Marisa Melo

- 26 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

A obra Origem, de Natan D’Sampa, acrílica sobre tela com 65 x 92 cm, parte de um gesto claro: reposicionar o indígena no centro da narrativa visual e histórica das Américas. Três figuras se impõem na composição, representando etnias das Américas do Sul, do Norte e do continente africano. Não há retrato literal, nem alegoria. O artista constrói um elo entre culturas originárias que sustentam, até hoje, a base do que chamamos de identidade brasileira e americana.
O uso da tinta acrílica confere força e textura à pintura. As cores vibram, mas mantêm equilíbrio. Cada personagem carrega uma presença visual nítida, com traços que se destacam sem cair na caricatura. A distribuição dos corpos e o olhar frontal das figuras indicam escolha: Natan não cria hierarquia. As três presenças ocupam o mesmo plano, sustentando juntas a ideia de origem como diversidade compartilhada, não como ponto único.
A obra se posiciona com clareza política e estética. Ao trazer o indígena como figura central, Natan desmonta a visão dominante que empurra as civilizações originárias para o passado ou para a margem. A ancestralidade não é evocada como lembrança, mas como estrutura ativa. A imagem propõe um deslocamento de olhar: não há identidade brasileira possível sem o reconhecimento do indígena como raiz que sustenta e conecta.
A pintura se constrói como reparo e visibilidade. Ao juntar etnias de diferentes territórios, o artista amplia a noção de pertencimento, reafirma que a raiz americana não é branca nem uniforme, e propõe que a pluralidade é, desde sempre, fundação.
Essa é uma obra que não apenas representa, mas reposiciona. Ao retomar o indígena como centro, Natan D’Sampa propõe uma revisão visual da história e devolve à tela aquilo que tantas vezes foi silenciado. É pintura que não explica, mas afirma. E que marca lugar com clareza.


