Cicatriz sem nome
- Marisa Melo
- 25 de jun.
- 1 min de leitura
Atualizado: há 6 dias

Tem dores que não gritam,
apenas se instalam.
Feito visita que chega sem avisar
e decide morar nos meus ossos.
Eu carrego cicatrizes que nunca viram a lâmina,
só o olhar atravessado,o abandono sutil,
as palavras que não vieram.
Tem dias em que algo em mim se rompe,
mas ninguém vê.
Continuo andando, sorrindo, respondendo,
como se não tivesse um rasgo no meio do peito
com gosto de vácuo.
Não sangra.
Mas dói.
Não aparece.
Mas pesa.
É como um grito que não saiu,
uma conversa que não aconteceu,
uma versão minha que nunca teve chance de ser.
Aprendi a me costurar sozinha,
com linha curta e fé cansada.
A sustentar o que desaba por dentro
com aparência de estrutura.
Tudo o que rasga sem sangrar
me ensinou a sobreviver
sem fazer alarde.
Mas hoje,
ao menos,
escrevo.
E a palavra me vaza devagar,
feito cura.
"Escrevo para não desaparecer. Se algo em mim tocou algo em você, então já não estamos tão sós. " MM