Quando a Cor Lembra de Voltar: Elis Regina Dias em Dois Movimentos
- Marisa Melo
- 3 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de jun.

Há obras que não apenas ocupam o espaço, mas que respiram memórias. Assim são “Azul e Rosa” e “Rosa e Azul”, díptico criado por Elis Regina Dias, apresentado na mostra De Onde Eu Vim: Reconstruindo Memórias, Criando Caminhos. Essas duas pinturas, cada uma com 100 x 150 cm, formam um par, elas compõem uma travessia, uma tentativa plástica de retornar às origens não como quem revisita um passado, mas como quem o reinventa com as mãos manchadas de tinta.
Em um gesto que parece íntimo e coreografado, Elis nos entrega uma abstração lírica que roça a arquitetura do afeto. As obras são pulsações. Há entre elas um elo sensível. Como espelhos que dialogam sem se duplicar, cada tela carrega traços próprios, ainda que uma pareça completar o fôlego da outra. As cores atravessam o espaço como quem atravessa uma lembrança: deslizando, reaparecendo em outra forma, em outro tempo.
A linguagem da artista é livre, mas não dispersa. Linhas finas e espontâneas cortam a superfície como nervuras de algo que está vivo. As pinceladas, ora largas, ora contidas, criam uma coreografia cromática que se sustenta entre o gesto e o silêncio. Elis desenha a emoção como quem costura o tempo, criando um campo visual onde o vazio não é ausência, mas pausa para que as cores respirem.
Sua paleta tem algo de delicadamente destemido: rosas que se dissolvem como pele antiga, azuis que evocam céu e abismo, laranjas que iluminam a memória, verdes que brotam como relva depois da chuva, violetas que tocam a borda do mistério. Tudo se apresenta em equilíbrio instável, como se cada tom carregasse um segredo guardado entre camadas.
No díptico, a inversão dos títulos é uma chave poética. Em “Azul e Rosa”, o azul funda o respiro e o rosa surge como sopro lírico. Em “Rosa e Azul”, o rosa é presença primeira, e o azul, memória que retorna. Há uma espécie de dança entre os dois quadros, como se um mesmo gesto tivesse sido dividido em dois tempos, dois compassos, dois retornos à mesma origem.
Ao integrar essas obras à exposição De Onde Eu Vim, Elis Regina Dias nos convida a repensar o que é origem. Não como um ponto fixo no tempo, mas como uma construção que se dá entre cor e silêncio, entre o gesto do agora e o vestígio do que já foi. Ela não nos entrega a memória, ela a reconstrói em cada camada de tinta, oferecendo caminhos possíveis para quem deseja se reencontrar na arte e na vida.
Visite a exposição!
De Onde Eu Vim: Reconstruindo Memórias, Criando Caminhos
Local: Shopping West Plaza, Piso I, Rua Francisco Matarazzo, s/n, durante o horário de funcionamento do shopping.
Realização: UP Time Art Gallery com curadoria de Marisa Melo.