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Recortes Contemporâneos | A Linguagem Universal da Arte

Atualizado: 17 de set.


Em No. 61 (Rust and Blue), Mark Rothko dispensa narrativas e símbolos explícitos para falar diretamente à sensibilidade humana. As grandes áreas de cor parecem suspensas no espaço, convidando o olhar a mergulhar em uma experiência que ultrapassa a linguagem verbal. Colocada em diálogo com outras pinturas do artista, mostrando que a arte pode ser compreendida em qualquer lugar do mundo como uma linguagem universal dirigida à emoção e ao espírito.



No. 61 (Rust and Blue), Mark Rothko
No. 61 (Rust and Blue), Mark Rothko

Há algo na arte que antecede fronteiras e ultrapassa a barreira das línguas. O gesto que traça, a cor que vibra, a forma que se organiza em silêncio, tudo isso fala antes mesmo de ser traduzido em palavras. Ao longo da história, diferentes culturas encontraram na arte um caminho de comunicação que escapa às limitações do discurso, uma gramática sensível capaz de unir povos distantes. A arte, nesse sentido, não é apenas linguagem, mas mediação, pois consegue reunir o singular de cada cultura ao universal da experiência humana.


A biografia de inúmeros artistas confirma esse caráter de mediação cultural. Picasso bebeu das esculturas africanas para reinventar a figura no cubismo. Kandinsky, ao aproximar-se da abstração, buscou inspiração em tradições espirituais do Oriente. Tarsila do Amaral soube transformar a modernidade europeia em linguagem antropofágica, capaz de traduzir o Brasil para o mundo. Cada um deles demonstrou que a arte, quando autêntica, não se fecha em identidades rígidas, mas se abre ao encontro, absorve e devolve ao mundo uma nova possibilidade de visão.


A linguagem da arte não é neutra, mas profundamente marcada pelo estilo e pelas escolhas de cada artista. A cor pode sugerir intensidade ou recolhimento, a linha pode expressar violência ou suavidade, a composição pode abrir ou sufocar o espaço. Esse vocabulário, ainda que nasça de contextos locais, ressoa em quem observa de qualquer latitude. É nesse sentido que uma pintura de Rothko emociona em silêncio, que uma escultura de Henry Moore sugere abrigo mesmo a quem desconhece a tradição moderna europeia, ou que uma fotografia de Sebastião Salgado denuncia desigualdades sociais sem precisar de tradução verbal.


O espaço expositivo amplia essa universalidade. Em museus, galerias ou até nas ruas, a obra ganha a chance de ser vista por públicos que não compartilham da mesma língua ou tradição, mas que encontram nela pontos de identificação. Um mural de Eduardo Kobra em Nova York fala tanto aos brasileiros quanto aos estrangeiros, porque a força da imagem prescinde de explicações longas. Ao mesmo tempo, a arte preserva sua densidade: cada pessoa lê a obra a partir de sua própria história, mas é exatamente essa abertura que confirma sua potência como linguagem universal.


A universalidade, no entanto, não significa homogeneidade. Pelo contrário, é o respeito à diferença que garante o alcance da arte. O que emociona em um canto do mundo pode ser reinterpretado em outro, e esse trânsito de sentidos é o que fortalece sua vitalidade. A arte não se impõe como idioma único, mas como partilha de experiências que nos recorda de nossa condição comum: sentir, criar, sonhar, temer, resistir.

Em tempos de fragmentação, pensar a arte como linguagem universal é afirmar sua importância como elo. Mais do que decorar ou entreter, a arte edifica, conecta e reconfigura modos de existir. O artista, ao criar, não fala apenas de si, mas oferece ao mundo uma tradução sensível de sua experiência. E quem observa, mesmo sem compartilhar do mesmo idioma, é capaz de compreender.


Assim, a arte continua sendo o território em que a humanidade reconhece seus dilemas e suas possibilidades. Uma pintura rupestre, um afresco renascentista ou uma instalação contemporânea não pertencem a uma língua restrita, mas ao acervo universal da sensibilidade humana. A linguagem da arte, por não precisar de palavras, é a mais ampla de todas: nos fala por imagens, sons, gestos e formas, e nos recorda que, apesar das diferenças, seguimos capazes de nos entender quando nos deixamos atravessar pela beleza.



Marisa Melo

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