Eva Jospin, Re-Selvagem e a arquitetura da paisagem
- Marisa Melo

- 24 de set.
- 2 min de leitura
Seda, linho e papelão viram arquitetura de paisagem em 14 obras de grande escala, planos, cortes e dobras, curadoria de Marcello Dantas na Casa Bradesco.

Fui à Re-Selvagem, Natureza Inventada, de Eva Jospin, artista visual francesa reconhecida por criar paisagens imersivas com seda, linho e papelão, na Casa Bradesco, curadoria de Marcello Dantas, e saí maravilhada com o rigor do conjunto. Em vez de imitar um bosque, Jospin organiza planos, cortes e dobras que produzem profundidade real, a sala respira e a floresta aparece como projeto, camada por camada.
São 14 obras de grande escala entre instalações, bordados, desenhos e vídeos. O destaque é Selva, peça central na trajetória da artista e exibida pela primeira vez no Brasil. Não é “efeito uau” gratuito, é estudo e pesquisa. O olhar entra por fendas, cruza relevos, encontra clareiras. Luz e sombra dão corpo, o vazio organiza a leitura. Tudo funciona com precisão.
Os bordados parecem mapas de vegetação. Fio vira linha de desenho, sem excesso de cor, sem enfeite. São cartografias de fluxo. Nos desenhos, o alfabeto da exposição fica explícito: direção de traço, áreas de respiro, pesos bem distribuídos. Os vídeos adicionam tempo, pequenas variações de luz e foco que aceleram e freiam o passo dentro da mostra. Nada está solto, cada núcleo conversa com o outro sem confusão.
O que me interessa é a coerência. Materiais “simples” ganham escala. A artista mostra que a ideia de natureza também é cultural, histórica e econômica. Papelão não significa precariedade, significa escolha de linguagem. Isso desloca a discussão para onde importa: como construímos as imagens que usamos para falar de mundo.
O título Re-Selvagem ajuda. Não há romantização do verde, há reposicionamento. Em um país que vive conflitos entre cidade, indústria e floresta, a exposição oferece estrutura. Quando o relevo cresce, o desenho segura. Quando a textura pesa, a luz resolve. Dá para sentir medida em tudo, distância entre peças, eixo de circulação, pausas calculadas.
Em termos práticos, a mostra lembra que paisagem não é só assunto bonito. A floresta de Eva Jospin é feita de: espessura do papelão, direção do corte, densidade do bordado. Essas decisões viram pensamento, com começo, meio e fim. A experiência não depende de legenda longa, depende de um conjunto bem montado.
Gosto de como a exposição equilibra monumental e manual. É grande sem ser espalhafatosa, detalhada sem virar minúcia. Vemos o gesto, percebemos a paciência de ateliê e, ao mesmo tempo, entendemos a força arquitetônica do conjunto. Nada sobra, nada falta.
Resumo do meu caderno: A exposição coloca a paisagem no presente sem nostalgia e sem moral de cartilha. Eva Jospin constrói uma floresta que nos obriga a pensar forma, matéria e decisão. É bonito, mas, antes disso, é claro. Quando a arte atinge clareza com essa precisão toda, o resto acontece.
Visitem e se deslumbrem!
Início: 6 setembro -10:00
Final: 7 dezembro -18:00
LocalCasa Bradesco
Alameda Rio Claro, 190 - Bela Vista
São Paulo, Brasil













