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Cândido Portinari | Passaporte para a Imortalidade


A Arte é o espelho da nossa alma. Dorian Gray e Fausto retratam sonhos: beleza, prazer, sabedoria... Oscar Wilde e Goethe souberam captar nosso íntimo, retratar suas épocas e entraram para a História. Esse é o poder da folha, da partitura e da tela em branco. Elas não esperam apenas mais um texto, mais uma canção, mais um quadro. Diante delas, um inglês escreveu “Ser ou não ser”. Um alemão combinou quatro notas mágicas em sua 5ª. Sinfonia. E um italiano pintou um sorriso enigmático. Passaram-se os séculos. E Shakespeare, Beethoven e da Vinci seguem vivos e reverenciados. Nenhum deles planejou isso. Mas ao traduzirem suas almas em suas obras, conquistaram um passaporte para a imortalidade. Quando essa entrega acontece, o observador é conquistado. E aplaude um estilo, que buscará avidamente no próximo quadro. Até criar uma intimidade que lhe permita em segundos relacionar a obra ao autor.


Vamos conversar sobre alguns artistas e seus estilos inconfundíveis.


Hoje conosco, Cândido Portinari.


Cândido Portinari
Cândido Portinari


Cândido Torquato Portinari nasceu em 29 de dezembro de 1903, em Brodowski, interior de São Paulo, filho de imigrantes italianos humildes. Desde cedo mostrou talento para o desenho e, com esforço, conquistou uma vaga na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A sua origem simples marcou profundamente seu olhar: ao contrário de muitos artistas que buscavam a representação idealizada, Portinari fez do povo brasileiro — trabalhadores, retirantes, crianças pobres — o centro de sua pintura. Morreu em 6 de fevereiro de 1962, no Rio de Janeiro, envenenado pelas próprias tintas: sofria de intoxicação crônica por chumbo, consequência de décadas de trabalho intenso.


Sua trajetória é a de um artista que nunca se desligou de suas raízes. Portinari percorreu os grandes centros da arte, estudou na Europa, mas ao voltar ao Brasil escolheu pintar o que lhe era mais próximo: o chão vermelho de sua infância, a seca nordestina, a luta dos trabalhadores do café, o sofrimento dos retirantes. Sua paleta mistura a grandiosidade do muralismo mexicano, sobretudo de Diego Rivera, a quem admirava — com um lirismo profundamente humano.


Entre suas obras mais emblemáticas estão os painéis “Guerra e Paz”, encomendados pela ONU em 1952, inaugurados em 1956 e hoje instalados na sede de Nova York. Neles, Portinari sintetizou os horrores e as esperanças da humanidade: de um lado, a devastação e a violência; de outro, o sonho de reconciliação. Esses murais monumentais são sua obra-prima e símbolo de sua universalidade.


Outro marco é “Retirantes” (1944), onde corpos magros e olhares perdidos traduzem a dor da fome e da seca no Nordeste. Longe de uma denúncia panfletária, a tela emociona pela humanidade das figuras, pela empatia silenciosa que o artista transmite. Também inesquecíveis são os retratos das “Crianças de Brodowski”, em que o cotidiano simples ganha grandeza plástica.







Portinari transitou entre pintura de cavalete, retratos e, sobretudo, murais monumentais. Sua obra está espalhada por prédios públicos, igrejas e espaços institucionais, porque acreditava que a arte deveria ser acessível ao povo. Foi, assim, ao mesmo tempo modernista e clássico, social e lírico.


Na vida pessoal, enfrentou o dilema de conciliar o compromisso social com a experimentação estética. Foi candidato a senador e deputado pelo Partido Comunista, e embora não tenha se eleito, seu engajamento político o colocou sob vigilância. Sua pintura, no entanto, ultrapassou fronteiras ideológicas e permanece como patrimônio humano, inscrito tanto na história da arte brasileira quanto no cenário internacional.


Portinari conquistou seu passaporte para a imortalidade porque transformou a arte brasileira em espelho da nação. Sua obra não pertence apenas ao Brasil, mas a todos os que reconhecem nela a força da vida, da luta e da esperança. Como poucos, soube traduzir o drama e a beleza de seu tempo em formas duradouras. Diante de seus murais, vemos mais que imagens: vemos a alma coletiva de um povo.





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