Transformação Natalina: geometrias que reorganizam o espírito | Boob Woods
- Marisa Melo
- 21 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

Há obras que nascem de uma data mas não se encerram nela. Transformação Natalina, de Bob Woods, é uma dessas imagens que reverberam para além do tempo marcado. Inspirada no espírito natalino, a composição carrega em si não apenas referências simbólicas ao Natal, mas uma proposta sensível de reconstrução. É uma obra que não ilustra o tema, ela o reorganiza em cor, ritmo e pulsação geométrica.
Ao contemplar sua nova fase, o que salta aos olhos não é apenas o rigor formal do abstracionismo geométrico, mas a energia vital que se esconde entre vértices e ângulos. Nesta etapa madura da trajetória de Bob, o artista abandona a figuração direta, mas não abandona o mundo. Ele o transforma, reorganiza e devolve em estruturas que vibram com equilíbrio e emoção.
Nascido em 1966 no Jardim Paulista, em São Paulo, Roberto é um criador que se move entre engenharias e artes. Projetista, topógrafo e perito, ele constrói com precisão aquilo que também deseja habitar poeticamente. Desde a infância, quando o desenho já era seu território de expressão, Bob Woods, percorreu décadas como autodidata, com obras e exposições que atravessaram estilos, sempre com uma predileção pelo realismo. Mas agora, escolhe a abstração como linguagem para dizer o indizível.
Em Transformação Natalina, os elementos se expandem. Triângulos, círculos, retângulos, cores chapadas e padrões gráficos se articulam numa dinâmica que remete tanto à multiplicidade dos enfeites quanto à interioridade de um tempo de silêncio. O vermelho pulsa como centro emocional. O amarelo ilumina como um reflexo de esperança. O verde aponta para a renovação. Ao redor, marrons terrosos e tons brancos estruturam e resgatam a simplicidade, como quem reencontra a infância entre formas.
A obra não é literal. Não há árvores, estrelas ou personagens. Mas há presença. Cada forma parece escolhida para reencenar um ritual íntimo de renovação. A textura digital não afasta o humano, ao contrário, ela o sintoniza com o presente. Bob transforma a lógica matemática em dança visual. Ele organiza o caos aparente com uma calma interna que atravessa a tela e nos alcança.
Seus padrões repetitivos, como grades, colmeias ou espirais, sugerem que tudo o que é fragmento pode se tornar conjunto. A obra pulsa com ritmo, silêncio e tensão. O olho é levado a percorrer caminhos, a reconhecer elementos, a perder-se e depois reencontrar-se. Há algo quase musical nesse movimento.
Bob Woods não pinta o Natal como ele é visto. Ele o redesenha como pode ser sentido. Em tempos de excesso de imagens e clichês visuais, sua obra é um alívio. Uma pausa gráfica.É preciso tempo para atravessar Transformação Natalina. E é precisamente esse tempo, desacelerado e atencioso, que a obra nos oferece como presente.