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“Silêncio Sagrado”– o rosto que carrega o tempo

Atualizado: 20 de jun.


“SILÊNCIO SAGRADO” série Nativos 2025_Mônica Ruggiero - Óleo e pastel seco sobre tela - 70x70 cm
“SILÊNCIO SAGRADO” série Nativos 2025_Mônica Ruggiero - Óleo e pastel seco sobre tela - 70x70 cm

Há obras que não se apresentam; elas pairam. Que não gritam; apenas estão, em sua inteireza, com a solenidade de algo que não precisa de explicação, pois fala diretamente ao que é antigo em nós. Assim é Silêncio Sagrado da série Nativos (2025), pintura óleo sobre tela com elementos em giz pastel seco, de Mônica Ruggiero. Um trabalho que se impõe pela entrega à imagem de um indígena do Alto Xingu, figura da série Nativos.


Ao centro, o rosto com os olhos cerrados. Não há estridência, apenas um recolhimento, um homem que se volta para dentro com a mesma intensidade com que protege o que vem de longe. Seu semblante sugere algo entre o recolhimento e o encantamento, como se escutasse vozes da floresta e dos rios. Como se rezasse, em silêncio, pela permanência daquilo que o mundo moderno tenta apagar.


O cocar de penas de arara não é adorno: é voz da mata. É ornamento do espírito. Carrega o movimento das aves e a vibração da floresta em cada cor. Já o brinco, o Hangapu, típico do povo Kalapalo, é um artefato que fala da identidade e do tempo circular. Ele repousa sobre a tela como se quisesse lembrar que há coisas que não se perdem enquanto forem carregadas com dignidade.


Ao redor da figura central, Mônica costura outros fragmentos de vida: peixes delineados com simplicidade infantil, quase como desenhos de uma lembrança antiga. Um gesto que toca a memória coletiva, a pesca, o alimento, o sustento diário. Do outro lado, uma canoa e seu remo, também representados sem escala, nos devolvem àquilo que é origem: o rio, o deslocamento, a travessia. E ao fundo, a vida que segue, crianças, tarefas, o cotidiano. Uma espécie de mural íntimo onde cada parte da tela carrega a respiração da aldeia.


Essa justaposição de materiais, o óleo denso com o pastel seco, que parece arranhar a superfície da tela com sua textura crua. O óleo imprime permanência; o giz, evanescência. E juntos, falam daquilo que a artista parece querer guardar: a memória. Mas não uma memória monumentalizada, e sim aquela que mora no gesto simples, na pele, na folha, no barro.


A paleta, como tudo em Mônica, não é escolhida para seduzir, é para honrar. Tons terrosos, marrons, vermelhos queimados e verdes abafados recriam a matéria da vida. A pele é pele, a madeira é madeira, o espírito é o que está nas entrelinhas. Uma pintura que se aproxima da reza, da evocação, do murmúrio que resiste diante do ruído do mundo. Mônica Ruggiero não pinta sobre indígenas, ela pinta com eles, ao lado deles, como quem empresta a tela para que algo mais fale por ela.


Esta obra é um gesto de permanência diante da ameaça do esquecimento. Um tributo ao que é essencial. Um canto que não precisa de voz para ser ouvido.

 
 

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