Régis: Amplificando a Voz Afro-Brasileira Através da Arte e do Ensino
- Marisa Melo
- 22 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

Há artistas que pintam com as mãos, outros com a alma, mas Régis Francisco pinta com a memória ferida de um povo e a esperança indestrutível de um amanhã que ainda se anuncia. Sua obra, densa como o silêncio das ausências históricas, e luminosa como o olhar de quem não desiste, é uma convocação visual que exige da arte seu papel mais íntegro: o de reparar, reconstruir, recordar.
Régis não separa vida de criação. Sua trajetória é uma travessia entre o gesto artístico, o exercício da palavra e o compromisso com a educação. Sua pintura nasce da escuta da história, do corpo negro como arquivo e território, do Brasil profundo que raramente vê seu rosto refletido nos espelhos da arte oficial. Há um rigor formal em seu trabalho, sim, mas ele não está a serviço da técnica pela técnica. Está a serviço do que precisa ser dito, mesmo que doa.
Sua linguagem visual é marcada por contornos fortes, gestos decididos, e uma paleta de cores que não busca suavizar a mensagem, mas amplificá-la. Os tons quentes, vibrantes e terrosos não colorem a superfície, eles acendem camadas de sentido. Sua arte carrega a fúria das ausências e a delicadeza dos reencontros. Um equilíbrio raro entre denúncia e celebração. Régis faz do traço um instrumento de visibilidade e da cor, um meio de afirmação.
Não há neutralidade possível em seu fazer. Ele pinta a partir de uma consciência coletiva, com raízes fincadas nas ancestralidades africanas e afro-brasileiras, e com os olhos voltados para um futuro que não se constrói com apagamentos. Suas imagens não são apenas visuais, são também sonoras, como se em cada rosto, em cada forma, ecoasse uma voz esquecida, um nome não dito, uma história ainda por escrever.
Como educador e palestrante, Régis amplia esse campo de atuação. Leva às salas de aula e aos espaços de formação o mesmo gesto que imprime em suas telas: provocar, inquietar, abrir. Sua presença diante de jovens, crianças e adultos é um chamado à consciência estética e social, é um convite para imaginar uma publicidade mais justa, uma comunicação que reconheça a pluralidade dos rostos que compõem este país.
Sua atuação não se restringe ao espaço da arte, ela o transborda. Régis é ponte entre o que fomos impedidos de lembrar e o que ainda podemos construir. Seu trabalho articula imagem, política, identidade e afeto com a precisão de quem sabe que toda criação é um ato de resistência. Ele não pinta por vaidade, pinta por urgência.
“Admiro em Régis a coragem de pintar o que muitos temem ver. Sua arte é chão, voz, pele e anúncio de um Brasil possível, onde a beleza negra não é exceção, mas centro.”