Roberto Jofre: Revelando a Alma de Buenos Aires nas Cores Pulsantes de Sua Arte

Roberto Jofre, nascido em Buenos Aires, é um artista autodidata que fez da própria cidade um espelho de sua pintura. Suas obras, marcadas pela linguagem do cubismo, não apenas retratam a capital argentina, mas a reinauguram a cada tela, transfigurando a vida cotidiana em composições vibrantes, onde o gesto urbano e a tradição cultural ganham novos contornos. Jofre transforma dançarinos de tango, esquinas silenciosas e fachadas gastas em formas geométricas que se cruzam, recriando a cidade não como se vê, mas como se sente.

Seu cubismo não obedece apenas a uma estética, ele reorganiza o real. Fragmenta, reconstrói, propõe outras possibilidades de ver. É assim que Buenos Aires surge, múltipla e pulsante, em planos sobrepostos que criam uma harmonia visual própria, onde o ritmo da cidade se torna quase visível. O uso da geometria é um fio condutor, guiando o olhar por entre ângulos que se revelam aos poucos, como camadas de uma lembrança viva.

O tango, presença constante em sua obra, aparece como linguagem e como corpo. Há uma sensualidade urgente nos traços que delineiam os pares dançantes, uma vibração que escapa do papel e toma o espaço. Jofre pinta o movimento como se o ritmo estivesse ali, na tinta fresca, sugerindo passos, giros e silêncios. A intensidade das cores, o vigor das pinceladas, tudo colabora para essa impressão de dança eterna, como se Buenos Aires respirasse através do compasso do tango.

Nas cenas noturnas, Jofre mergulha nos cafés, cabarés e bares onde a cidade se esconde e se revela. A noite se desdobra em luz e sombra, e há sempre algo que pulsa entre as mesas, um brilho oblíquo nos olhos das figuras, um traço de melancolia nas janelas entreabertas. Até os “compadritos,"esses homens simples, ousados, muitas vezes esquecidos, aparecem em sua pintura com uma dignidade indômita, envoltos por cores que lhes devolvem presença e respeito. Há um carinho sutil em como Jofre os insere, como se cada um tivesse uma história antiga, guardada entre os becos e os violões. A cidade que ele pinta não é estática, é viva. Vermelhos intensos, azuis profundos, tons escuros que evocam o tempo, cada escolha cromática carrega um estado de espírito, uma emoção suspensa.

Em cada pincelada de Jofre, Buenos Aires se revela não como cenário, mas como sentimento. Sua arte é uma dança onde a cidade vibra, respira, se reconstrói a cada quadro. Não se trata apenas de representar, mas de fazer viver. Jofre nos convida a percorrer Buenos Aires com outros olhos, como se atravessássemos um sonho feito de ritmo, de cor, de silêncio e saudade. E assim, sua pintura se transforma em um tributo à cidade que nunca dorme, ao tango que nunca cessa e à beleza de tudo o que resiste com alma.