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Poesia: Júlia, onde o cerrado pinta por dentro

Atualizado: há 5 dias


Júlia d'Paula_2025
Júlia d'Paula_2025

Ela tem 16,

mas o pincel dela carrega um tempo antigo,

feito saudade que aprendeu a pintar.

Sua obra não enfeita, ela guarda,

registra o cheiro do quintal,

a flor que só desabrocha em silêncio

Essa poesia nasceu de uma pintura,

e essa pintura nasceu de um sopro vindo de dentro,

como quem respira a memória

antes mesmo de entendê-la.


Flor de Ouro

nasceu do silêncio das árvores.

A flor do pequizeiro se abriu em tela

como quem pede reverência,

como quem guarda no corpo

o segredo do tempo.

Júlia a viu antes de todos

e então a imortalizou,

com tinta, com ternura,

com sangue.


Essa flor não é ornamento.

É altar,

é mulher em desabrocho.

São as ruas de Palmas

florindo de novo

no peito de quem já entendeu

que beleza também pode ser permanência.

Cada pincelada é uma reza,

cada cor,

um pedaço de infância que não morreu.


E então vem o fruto.

Ouro do Cerrado

é ventre aberto,

é a terra oferecendo

o que tem de mais íntimo.

Pequi partido, amarelo profundo,

quase sol,

quase ferida,

quase cura.

Júlia pinta como quem colhe,

com as próprias mãos,

o milagre da fartura.


Seus olhos são a paleta da terra.

Ela vê o que os outros passam sem notar,

a beleza que mora na casca bruta,

o brilho que se esconde onde ninguém procura,

o cheiro bom que só vem depois da chuva.


O cerrado não é pano de fundo.

É personagem,

é grito,

é origem.

E Júlia não imita a paisagem,

ela escuta a voz da raiz

e traduz com o corpo.

Há barro em sua pintura,

há poeira,

há sal no suor da cor.


Júlia vê com os olhos do chão.

Ela enxerga o que o mundo esqueceu na pressa:

o duro que protege o doce,

o espinho que ensina o tato,

o perfume que se esconde no depois.

Seus quadros não são para a parede.

São para a memória,

para aquele lugar dentro da gente

onde mora o que ainda não foi embora.


O cerrado, ali, não está por trás.

Está por dentro.

Não é cenário.

É ferida que virou palavra,

é raiz que aprendeu a escrever poema.

E Júlia, com o corpo inteiro atravessado de tempo,

Traduz.

E quando o mundo se cala por não saber o que dizer,

ela pinta como quem afaga,

como quem devolve ao silêncio um gesto de amor.




Ouro do Cerrado - Óleo sobre tela_30x40 | 2024
Ouro do Cerrado - Óleo sobre tela_30x40 | 2024


Flor de Ouro - Óleo sobre tela_40x70 cm | 2023
Flor de Ouro - Óleo sobre tela_40x70 cm | 2023



Visite a mostra e conheça as obras de Júlia!


Mostra coletiva “De Onde Eu Vim: Reconstruindo Memórias, Criando Caminhos”

Realização: UP Time Art Gallery

Curadoria: Marisa Melo

Local: Shopping West Plaza, Piso I – São Paulo

Período: Até 25 de julho de 2025

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