Jurandir Dias e Sua Busca pela Essência"
- Marisa Melo

- 30 de set. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de set.

A criação de uma obra de arte não se resume à aplicação de técnicas ou à manipulação de materiais. Ela nasce de uma disposição intelectual e sensível, que exige aprofundamento, repertório e um olhar capaz de transformar percepção em linguagem. Como escreveu Paul Klee, "a arte não reproduz o visível, ela torna visível". Nesse sentido, a construção artística não é uma simples reprodução, mas um convite à reflexão. Uma obra potente não se entrega de imediato, ela propõe camadas e provoca aproximações lentas. É nesse território que se insere a produção de Jurandir Dias.
Com uma linguagem visual sólida e uma assinatura reconhecível, Jurandir desenvolve sua pesquisa a partir de figuras humanas estilizadas, personagens femininas, elementos circenses e bailarinas em posições performáticas. O artista trabalha com cores vibrantes e contrastantes, explorando uma paleta marcada por vermelhos, amarelos, verdes e roxos, que reforçam o dinamismo e a expressividade de suas composições.
Sua pintura parte de uma estrutura geométrica que não engessa a forma, mas organiza o espaço pictórico. Planos coloridos, linhas curvas e padrões repetitivos criam ritmos visuais que guiam o olhar. As figuras interagem com esses padrões de maneira fluida, reforçando a ideia de que corpo e ambiente são parte de um mesmo fluxo. Jurandir não busca o realismo, mas uma representação estilizada, onde a anatomia se curva à expressividade.
Os cenários que compõem suas obras transitam entre o urbano e o imaginado, com forte presença de construções assimétricas, perspectivas inclinadas e elementos arquitetônicos que dialogam com o teatro, o circo e a dança. Suas personagens muitas vezes aparecem em gestos exagerados, ou em cena, como se participassem de um espetáculo contínuo. É uma cidade vista como palco, onde a ação estética é também crítica social.
O humor sutil, por vezes irônico, também emerge em algumas obras, equilibrando leveza e tensão. Jurandir explora com maturidade os recursos da cor, do contraste e da repetição para compor uma narrativa visual coerente, sem recorrer ao óbvio ou ao decorativo.
Seus trabalhos revelam uma pesquisa contínua de linguagem, onde a técnica acompanha o conteúdo, sem diluí-lo. Há domínio da forma, mas também uma inquietação que alimenta a originalidade de sua poética visual. As figuras não estão ali para serem lidas de maneira literal, mas para provocar associações e ampliar a experiência do olhar.
Jurandir Dias constrói uma obra autoral, marcada por identidade forte, domínio técnico e visão de mundo. Sua pintura se insere na cena contemporânea com personalidade, propondo uma arte que não se contenta com o previsível. Ele trabalha com rigor, mas também com liberdade, transformando o ato de pintar em um exercício de reinvenção da forma e da narrativa.



Série Cubista_óleo sobre tela


