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Aos 50 o jogo muda

Atualizado: há 6 dias

Fui tantas, escrevi todas — 2020, p.77_MM
Fui tantas, escrevi todas — 2020, p.77_MM


Ao longo da vida a gente vai se despindo. Não no sentido do corpo, mas das defesas, dos papéis, dos disfarces que um dia achamos necessários para caber nos lugares. Vamos nos tirando as camadas. Aos poucos, sem estardalhaço, vamos ficando mais próximos de quem realmente somos. E é nesse processo, cru, às vezes dolorido, mas incrivelmente libertador, que começamos a construir uma integridade que não deve nada a ninguém. Uma integridade visceral, a nosso favor.


Erramos, claro. Nos atrapalhamos, nos sabotamos, nos cansamos. Choramos por coisas que hoje nem fazem sentido. Lutamos por causas que depois se provaram ilusões. Mas nada disso foi perda de tempo. Tudo foi parte. Parte do processo chamado viver. É com esses tropeços que aprendemos a caminhar com os pés firmes. E com essas feridas que descobrimos onde não pisar de novo.


Aos cinquenta, o jogo muda. Mas não acaba, começa de outro jeito. Um jeito mais interessante, mais consciente, mais cheio de margem de manobra. É como jogar sabendo que não vamos nos machucar. Sabemos nos preservar, sabemos o que vale a pena. Sabemos, principalmente, o que não vale mais.


A maturidade tem charme, tem sensualidade, tem esperteza. Não é pressa, é precisão. Não é sobre provar, é sobre saber. Não é sobre correr, é sobre escolher o caminho com gosto. Aos cinquenta, a gente joga com mais estratégia e com menos medo. E olha, é uma delícia.


Não troco os cinquenta pelos vinte e cinco. A não ser, claro, que o corpo de vinte e cinco viesse com a cabeça cinquentona, aí sim, seria covardia. Mas fora isso, fico onde estou. Porque há algo irresistível em saber quem se é, em ocupar os próprios desejos com autonomia, em não precisar de aprovação alheia para se sentir viva.


E sim, a gente perde pedaços no caminho. Se desfaz de ilusões, de vínculos, de antigas versões de si. Mas também junta outros tantos: afetos mais sólidos, repertório, clareza, prazer em ser exatamente como se é. Envelhecer é maravilhoso. É um privilégio. É uma afirmação.


No final das contas, viver é isso, ir ficando cada vez mais inteira com o tempo. Ir se escolhendo. Ir se tornando. Até que, sem aviso, a gente olha no espelho e percebe: agora sim, sou eu. Inteira. E pronta para tudo.



"Escrevo para não desaparecer. Se algo em mim tocou algo em você, então já não estamos tão sós. " MM

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