Mar e Rios - de Alex Persson
- Marisa Melo
- 30 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 9 de abr.

Não se trata apenas de um corpo diante da natureza. É a natureza que se curva diante de um corpo feminino. Mariana Rios, captada em sua inteireza sensível, não aparece como musa, mas como continente, é rio e é mar. É ela quem escuta o mundo, quem acolhe o movimento das águas. Persson, com sua paleta contida e gesto calculadamente fluido, constrói a cena.
A geometria descontinuada, tão característica do artista, não rompe a imagem: ela a costura de outro modo. O que parece fragmento revela, na verdade, uma busca pela totalidade. Uma arquitetura subjetiva feita de vazios, pausas e sobreposições. Há algo de paisagem e algo de sonho na estrutura compositiva, quase como se estivéssemos olhando através de um vitral moderno, onde cada pedaço é uma memória, e o conjunto é um sentimento.
A marca d’água de Persson está sempre ali: as ondas. Elas são mais do que referência ao mar. São respiração pictórica. A ondulação aparece como linguagem, como se cada pincelada fosse conduzida por uma maré interior. Desde o início de sua carreira, o artista carrega essas curvas como quem carrega uma oração silenciosa. As ondas são sua assinatura sensível. Um modo de dizer sem palavras que tudo está em fluxo.
A paisagem carioca, ao fundo, não é cenário. É atmosfera. Não há aqui a tentativa de imitar o real, mas de recriar o que ele desperta: o calor, a luz oblíqua, a salinidade no ar. Persson entende que a paisagem verdadeira não está diante dos olhos, mas por detrás das pálpebras, lá onde o visível encontra o que sentimos.
Em "Mar e Rios", premiada com o primeiro lugar no Salão de Arte Contemporânea da UP Time Art Gallery, o gesto pictórico de Alex Persson atinge uma maturidade luminosa. É uma pintura que não grita. Ela convida, seduz, envolve.
E Mariana, ali no centro, já não é apenas figura. É a mulher que habita o tempo da água, que repousa entre o que passa e o que fica. Uma espécie de divindade líquida, capturada entre dois mundos, suspensa no instante exato em que o rio se entrega ao mar.