Lenny Hipólito | História de Todas Nós Mulheres
- Marisa Melo
- 19 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jun.
Estreou no dia 17 de junho a exposição virtual História de Todas Nós Mulheres, uma mostra em 3D que reúne um coletivo de artistas comprometidas em mostrar o que é ser mulher com verdade e intensidade. São obras que abordam realidades diversas, trajetórias marcadas por rupturas, sobrecarga, reinvenção, cuidado, injustiça e potência.
O projeto nasce da urgência de visibilizar narrativas visuais que não embelezam a dor nem suavizam a luta, mas assumem o que se vive. Cada artista traz a sua forma de enfrentar o mundo com arte: seja com lápis, tinta, tecido, fotografia ou gesto.
Como curadora, reuni artistas de diferentes gerações, contextos e técnicas, mas com algo em comum: a vontade de falar por si, de propor outros caminhos, de não aceitar o papel que nos foi dado sem antes redesenhá-lo.

Obras: “Fascínio” e Díptico:"A Espera e a Espera I – óleo sobre tela
O escritor francês Georges Didi-Huberman afirma que a imagem não se mostra apenas pelo que revela, mas pelo que resiste. Essa ideia ajuda a compreender a obra de Lenny Hipólito, artista que constrói sua linguagem a partir da tensão entre o que é visto e o que se retém. Em seus trabalhos, a figura feminina não se reduz à representação, ela se organiza como presença estruturante, como núcleo em torno do qual tudo acontece.
Natural de Belo Horizonte, Lenny Hipólito é artista plástica, escritora e palestrante, com formação em Ciências Econômicas. Sua trajetória multifacetada reflete uma produção visual que combina pensamento crítico, linguagem simbólica e identidade estética. É uma artista que transita com segurança entre os campos da arte e da palavra, e isso se percebe na forma como estrutura suas composições com clareza, rigor e intenção.
Sua técnica é baseada no pontilhismo, método que exige precisão e sensibilidade. Cada ponto é resultado de uma escolha, cada camada é construída com paciência e objetivo. Lenny carrega em sua pintura uma herança do impressionismo, mas reformula esse legado em uma chave contemporânea. O gesto é refinado, a composição é planejada, e o resultado não se impõe pela exuberância, mas pela consistência visual e pelo domínio técnico.
Em "Fascínio", a artista apresenta uma figura feminina central que se expande em meio a texturas densas e tons vibrantes. Rosa, dourado e preto se entrelaçam criando uma atmosfera de força contida. A mulher não está em exposição, está em construção. O olhar não é direcionado ao outro, mas voltado para si. Há um jogo entre retração e poder que reforça a densidade emocional da cena. A sensualidade aqui não é decorativa, é estrutural.
No díptico "A Espera" e "A Espera I", duas figuras femininas compartilham o espaço em estados distintos, mas claramente interligados. A espera, nesse contexto, não se configura como passividade, mas como consciência do tempo. A construção das personagens, com volumes simples e elementos gráficos que remetem a mosaicos, sugere um equilíbrio entre tensão e decisão. Há um rigor compositivo evidente, que se traduz na disposição das formas e na contenção dos gestos.

As obras de Lenny Hipólito revelam uma artista que domina seu vocabulário visual e não abre mão de uma estética autoral. O uso do dourado, dos contrastes, dos recortes e ornamentos, faz parte de uma linguagem própria, que não depende de tendências nem do apelo fácil da imagem. Ela trabalha com intenção. Cada obra é uma construção deliberada, que envolve matéria, corpo e pensamento.
Na exposição "História de Todas Nós, Mulheres", os trabalhos de Lenny ocupam um lugar de equilíbrio. Sua pintura não precisa de ruído para se afirmar. É através da precisão e da coerência que ela propõe uma leitura do feminino que foge aos estereótipos. Lenny não romantiza, tampouco dramatiza. Ela oferece ao olhar uma imagem estruturada, viva e segura de si.
Seus trabalhos integram a mostra por essa clareza rara: a de quem sabe o que está dizendo, e escolhe como dizer. Em um tempo em que muitas imagens competem por atenção, a obra de Lenny Hipólito convida ao olhar demorado, aquele que reconhece na construção cuidadosa de uma imagem, um modo profundo de pensar o mundo.

Curatorial:
História de Todas Nós, Mulheres é um projeto feito com alma, para que possamos contar e recontar as histórias que nos atravessam, nos moldam e nos transformam. Um espaço seguro e sensível onde cada mulher pode compartilhar sua vivência, sua força e sua verdade. Porque quando uma mulher se escuta, se expressa e se reconhece, ela cura partes profundas de si e acende luzes no caminho de outras.
Serviços:
Exposição Virtual 3 D: História de Todas Nós Mulheres
Plataforma: Kunstmatrix
realização: UP Time Art Gallery
Curadoria: Marisa Melo
De 17 de junhi à 17 de agosto de 2025