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Júlia Dalcastagné | História de Todas Nós Mulheres

Atualizado: 25 de jun.


Problem Child - Óleo sobre tela_2021 | 70 x 50 cm
Problem Child - Óleo sobre tela_2021 | 70 x 50 cm

“Toda criança é artista. O problema é como continuar artista depois de crescer”, disse Picasso. No universo de Júlia Dalcastagné, essa continuidade é um eixo central. Sua pintura nasce do diálogo entre o olhar infantil e as fraturas do mundo adulto, criando personagens que parecem saídos de um conto, mas carregam inquietações profundamente humanas.


Natural de Florianópolis, Julia cresceu em um ambiente onde a arte se fazia presente, ainda que fora dos moldes de uma família tradicionalmente artística. Filha de pais ligados às ciências exatas, teve no pai, que tocava instrumentos musicais, uma referência afetiva que, de certo modo, já indicava um vínculo com a criação. Encontrou na arte um espaço de escape e reinvenção. Desde pequena desenhava compulsivamente, muitas vezes enquanto assistia a desenhos animados e lia gibis. Foi educada na escola Waldorf, onde teve contato com caligrafia, aquarela, argila e marcenaria, um repertório que desenvolveu seu domínio técnico e sua sensibilidade material.


Aos 12 anos, durante um ano em Londres, seu olhar se ampliou. O contato direto com museus, principalmente a National Gallery, e o impacto de obras como A Grotesque Old Woman, de Quinten Massys, marcaram profundamente sua imaginação. Julia se reconheceu naquilo que muitos evitavam: o feio, o estranho, o desconfortável. Ali nasceu sua estética, que combina exagero, ironia, melancolia e beleza, tudo com uma paleta vibrante e personagens de olhos grandes, quase desproporcionais, como se enxergassem mais do que o permitido.


De volta ao Brasil, encontrou na arte o caminho possível para lidar com as rupturas da adolescência e os processos de readaptação. Abandonou o realismo e se entregou a figuras caricaturais, influenciada por escritores como Eça de Queiroz e Machado de Assis. Sua produção passou a incorporar frases curtas, traços exagerados, contrastes cromáticos e o uso de nanquim, corretivo e caneta vermelha. Foi o início de uma linguagem visual que seguiu se expandindo na graduação em Artes Visuais pela UDESC e, depois, na especialização em ilustração e quadrinhos em Milão, na Scuola Mohole.


A artista participou de importantes mostras nacionais e internacionais, entre elas a Luxemburg Art Prize, a Bela Bienal do Rio de Janeiro e exposições em Osaka, Paris, Finlândia, Portugal, Barcelona e Bélgica. Sua pintura em óleo ganhou força nos últimos anos, como forma de aprofundar o contraste entre o onírico e o inquietante. Julia cria figuras que parecem saídas de um pesadelo doce, personagens que convivem com o trauma e o absurdo, mas que não perdem a delicadeza.


Na mostra História de Todas Nós, Mulheres, Julia apresenta a obra Criança Problema, uma cena carregada de tensão afetiva. Uma mulher de cabelos flamejantes segura duas crianças: uma nos braços, de expressão dura; outra, mais velha, se agarra à cintura com um olhar entre mágoa e exaustão. A figura materna parece conter o que está prestes a ruir. O título, direto como um diagnóstico, expõe os rótulos impostos à infância que desvia da norma. A composição tem algo de cênico e mitológico: fundo escuro com pontos de luz, corpos intensos, roupas vibrantes. Os olhos grandes, marca da artista, ampliam a carga emocional da cena. Nada ali suaviza. A infância é tensa, a maternidade pesa. E, mesmo assim, segue-se tentando.


Ao trazer Problem Child para esta mostra, Julia amplia o escopo do que entendemos como narrativas visuais do feminino. Sua obra não fala apenas de mães e filhos, mas da complexidade dos vínculos, das violências sutis, da herança afetiva e dos monstros domésticos que aprendemos a conviver. É uma pintura que exige que o olhar não se acomode. Que perceba, no traço, o incômodo. E que entenda que, às vezes, o que mais dói é aquilo que ninguém vê.


Sua presença na História de Todas Nós Mulheres afirma a importância de se falar sobre as infâncias que não foram doces, os vínculos que sufocam, e as mulheres que, mesmo feridas, seguem tentando proteger o que ainda resta. Julia não ilustra uma cena. Ela desloca e denuncia, sem perder a mão estética, sem abrir mão da fábula. Sua obra é política justamente porque parece íntima, mas fala de algo coletivo. E por isso, ocupa um lugar de destaque nesta construção de memória, presença e desconstrução.



Júlia Dalcastagné
Júlia Dalcastagné

Curatorial:

História de Todas Nós, Mulheres é um projeto feito com alma, para que possamos contar e recontar as histórias que nos atravessam, nos moldam e nos transformam. Um espaço seguro e sensível onde cada mulher pode compartilhar sua vivência, sua força e sua verdade. Porque quando uma mulher se escuta, se expressa e se reconhece, ela cura partes profundas de si e acende luzes no caminho de outras.


Visite:


Serviços:

Exposição Virtual 3 D: História de Todas Nós Mulheres

Plataforma: Kunstmatrix

Realização: UP Time Art Gallery

Curadoria: Marisa Melo

De 17 de junho à 17 de agosto de 2025

 

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