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Amar Não É Ilusão: Uma Resposta a Schopenhauer

Atualizado: 21 de jul.


Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer


Arthur Schopenhauer, em sua amarga lucidez, via o amor como um ardil da natureza. Para ele, a paixão seria uma ilusão biologicamente conveniente, uma distração orquestrada pela vontade cega de viver, cujo único propósito seria a reprodução. O casamento, por consequência, aparecia em seu pensamento como uma armadilha emocional, onde a promessa de prazer se transfigura, com o tempo, em rotina, tédio ou repulsa. Seu ceticismo em relação ao amor é tão contundente quanto desconcertante, porque atinge uma fragilidade real: o fato de que muitas relações fracassam. No entanto, talvez ele tenha confundido a falha humana com a falha do sentimento. Talvez o problema não esteja no amor, mas no modo como escolhemos sustentá-lo, ou não.


A filosofia de Schopenhauer nos ajuda a desconfiar da idealização. Essa é, sim, uma contribuição valiosa. Mas quando essa desconfiança se transforma em negação total da experiência amorosa, perdemos a possibilidade de entender o amor como escolha cotidiana. O amor não é ilusão. A ilusão está no desejo de amar sem trabalho. De casar sem escuta. De prometer sem sustentar. Amar, no mundo real, é muito menos sobre encantamento do que sobre presença. E casamento não é cárcere, é estrutura. Pode sufocar, pode proteger. Depende do que se constrói entre os dois que ali habitam.


Não é o amor que engana. São as pessoas que mentem para si mesmas. Que se entregam à conveniência, ao impulso, à fantasia de que o outro será responsável pela sua completude. Amar exige um tipo de consciência que muitos evitam: a consciência de que o outro não veio para preencher, mas para compartilhar. Quem entra num casamento esperando ser salvo, muito provavelmente acabará acusando o amor por não tê-lo feito. E aí, dá razão a Schopenhauer.


O amor é um campo de responsabilidade. É escolha, não acidente. Mesmo quando começa por um impulso incontrolável, só se sustenta na repetição do gesto. Quem ama precisa validar esse amor todos os dias, com ações, presença e disposição para enfrentar as zonas escuras da convivência. O casamento, nesse sentido, é uma prática ética. Não uma estrutura caduca, mas um acordo vivo entre pessoas que decidiram construir juntas algo que não se faria sozinhas.


Há quem diga que o amor acaba. Mas talvez o que acabe seja a disposição de seguir amando. Porque amar também cansa, desgasta, fere. E justamente por isso é que precisa de manutenção. O erro está em naturalizar o amor como uma força mágica e autônoma. Como se, depois do encontro inicial, tudo acontecesse por gravidade emocional. Não acontece. Nada se sustenta sem atenção.


O que Schopenhauer viu com pessimismo, eu vejo com responsabilidade. O amor não é um delírio, mas um território exigente. E o casamento, longe de ser um erro universal, pode ser uma das formas mais intensas de se viver o afeto com compromisso. Há casamentos sem amor, há amores que nunca se oficializaram. Nada disso define a profundidade de um vínculo. Mas toda relação verdadeira exige disponibilidade para o risco, para a transformação, para o outro e para si mesmo.


O amor não é o problema. A recusa em lidar com o que ele implica é que destrói. Quando se evita o enfrentamento, quando se foge da complexidade, o sentimento se esvazia. E então culpamos o amor, ou a estrutura do casamento, como se fossem entidades externas que nos feriram. Não foram. Fomos nós. Com nossas omissões, nossos silêncios, nossos medos. Amar é difícil. Mas amar é possível. E quem ousa amar com inteireza sabe: não é ilusão, é coragem.

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