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Alexandre Pinhel é um alquimista das artes

Atualizado: 16 de set.


"A Fuga"
"A Fuga"

A arte sempre encontrou força nos resíduos do mundo. O que foi descartado, o que perdeu função, o que parecia destinado ao esquecimento, volta a pulsar quando submetido ao olhar e ao gesto do artista. Alexandre Pinhel se insere nesse contexto como quem reconhece no banal a possibilidade de transfiguração. Há algo de filosófico nesse processo: transformar restos em linguagem, transformar matéria em metáfora, devolver vida ao que já fora considerado inútil. Sua obra não se limita a reaproveitar objetos, mas os converte em signos, em enigmas que pedem ao observador uma leitura mais profunda, menos imediata.


Formado em engenharia, Alexandre Pinhel carrega em sua biografia uma dimensão que ultrapassa a habilidade manual. Sua trajetória é permeada por um conhecimento técnico que se converte em campo experimental. Embalagens, peças de metal, espelhos de cerâmica, fragmentos de materiais sólidos passam por processos químicos, mecânicos ou térmicos que reconfiguram sua aparência e dissolvem seu passado de uso. O artista se coloca como alquimista contemporâneo, herdeiro de uma tradição que, desde a antiguidade, buscava na transformação da matéria um espelho para a transformação da vida. Em sua prática, o talento se aproxima da pedra filosofal: aquilo que, tocando o insignificante, o converte em obra. Sua linguagem estética tem raízes no neoexpressionismo, movimento que privilegiou a energia do gesto, a intensidade da cor e a força simbólica das formas.


Mas em seu caso, essa influência se alia ao interesse por processos industriais e experimentos de laboratório. O resultado são telas e esculturas que não revelam de imediato sua origem. O espectador, ao se deparar com o objeto, não reconhece o material inicial. Apenas mais tarde, informado pelo artista, descobre que aquele fragmento metálico, aquela superfície irregular, aquela textura aparentemente orgânica foram, em outro momento, resíduos descartados. Essa recusa à identificação imediata amplia a potência da obra, pois impede a leitura automática e convida a um exercício de imaginação.


Dispostas em sala, as telas e esculturas de Pinhel trazem uma atmosfera que oscila entre a força bruta da matéria e a delicadeza de sua transfiguração. O público é desafiado a olhar mais de perto, a desconfiar da superfície, a se perguntar sobre a origem daquilo que observa. Ao não revelar de imediato os materiais de partida, o artista nos obriga a questionar a relação entre aparência e essência, entre forma e função, entre passado e presente daquilo que a sociedade consome e descarta. A exposição, nesse sentido, torna-se um lugar de conscientização, uma experiência estética que também é crítica ambiental.


O que torna sua produção interessante é justamente essa combinação de técnica e mistério. Se, de um lado, há uma base sólida de conhecimento científico, de outro, há um impulso poético que recusa o controle total. O resultado final não é apenas um cálculo, mas uma surpresa, tanto para o público quanto para o próprio artista. O objeto transformado carrega consigo um segredo, e é esse segredo que garante sua permanência no imaginário de quem o contempla.


Ao final, o trabalho de Alexandre Pinhel nos lembra que a arte não é simples adorno, mas gesto transformador. Cada obra é convite a refletir sobre os limites da percepção, sobre o destino da matéria e sobre nossa responsabilidade diante do planeta. O artista nos oferece não apenas imagens, mas enigmas. E ao aceitar o desafio de decifrá-los, nos tornamos cúmplices de sua alquimia. Porque, em última instância, a função da arte não é revelar tudo de imediato, mas abrir espaço para aquilo que permanece em suspenso, que nos obriga a imaginar, que nos convida a pensar. Nesse ponto, Pinhel se afirma como criador de um território único, onde resíduo se torna símbolo e matéria se converte em mito.








"Rito de Passagem"
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