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O Documentário "O Fim da Beleza" | O desejo por beleza como sintoma de um tempo exausto

Atualizado: 17 de mai.


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A repercussão da trilogia Brasil Paralelo não é apenas um fenômeno de audiência, é um sintoma. Um espelho, polido ou distorcido, que reflete os ruídos, as faltas e o cansaço do nosso tempo. Seu sucesso não se deve unicamente ao conteúdo, mas ao vazio que ele parece preencher. Há algo que ressoa fundo em muitos brasileiros: uma nostalgia do belo, uma sede por sentido, uma inquietação diante da erosão de valores que, por muito tempo, serviram de chão.


Há quem veja no documentário uma resposta a uma crise moral e cultural, algo que vai além da arte e toca um mal-estar coletivo. Um desejo latente de reencontro com a ordem, com a clareza, com uma noção de beleza que acalme o ruído contemporâneo. Ao reunir espectadores conservadores e os chamados “patriotas”, o projeto dialoga com aqueles que se sentem deslocados em um mundo onde as referências se diluíram, onde tudo pode ser arte e, ao mesmo tempo, nada parece tocar verdadeiramente.


É aqui que o debate se aprofunda. Porque a busca por beleza não é exclusiva de um espectro ideológico, ela é humana. É desejo de encantamento, é fome de contemplação, é vontade de respirar entre as pressas do mundo. Muitos sentem que a arte contemporânea lhes virou as costas, que as poéticas hoje em voga falam mais consigo mesmas do que com o público. E esse distanciamento tem seu preço: a perda do sagrado do olhar.


Mas é preciso cuidado ao transformar esse desconforto em argumento contra a liberdade artística. A ampliação das fronteiras da arte, esse gesto muitas vezes inquietante, ambíguo, desobediente, também carrega valor. Questionar a ausência de critérios não deve significar retornar a um passado fechado, mas encontrar novos modos de preservar a qualidade sem sufocar a inovação.


A beleza, nesse contexto, não pode ser vista apenas como adorno ou recompensa. Ela é fundamento. É o que ancora a experiência humana em algo que nos ultrapassa. E o que está em jogo aqui é menos o fim da beleza e mais sua rarefação. Vivemos tempos onde tudo é dito, tudo é exibido, mas pouco é verdadeiramente contemplado. A estética virou ruído. E no meio desse ruído, a ausência de silêncio nos faz desejar o essencial.


O documentário acerta ao tocar nesse desejo, mas tropeça quando transforma a crítica em dogma, a inquietação em rigidez. A experiência estética é, e sempre foi, plural. Nem tudo que é moderno é raso, nem tudo que é clássico é profundo. O que importa é a presença de um gesto autêntico, de uma busca verdadeira por sentido, que pode habitar tanto um quadro renascentista quanto uma instalação contemporânea feita de areia e vento.


Desde o Iluminismo, é verdade, caminhamos por trilhas que nos afastaram de certos fundamentos. Mas também abrimos caminhos novos. O problema não está no múltiplo, mas no superficial. E o que está sendo pedido, ainda que por caminhos tortos, é um reencontro com aquilo que permanece. Com a beleza como necessidade vital. Com a arte como espaço de reencantamento.


“A beleza não precisa ser explicada, mas precisa ser defendida. E talvez o maior desafio de hoje não seja encontrá-la, mas aprendermos novamente a vê-la.”
–– Marisa Melo

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