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Júlia Dalcastagné | Entrevista

Atualizado: 10 de out.


Entre linguagens e narrativas visuais, Júlia Dalcastagné constrói uma obra que transita da pintura à arte digital, dos quadrinhos feitos à mão às esculturas, revelando um universo criativo em expansão que encontra na recente exposição em São Paulo um marco de afirmação.



Júlia Dalcastagné
Júlia Dalcastagné

Nascida em Florianópolis, Júlia Dalcastagné cresceu em contato com universos gráficos que marcaram uma geração: cartoons, animes, super-heróis e gibis. Esses imaginários, que atravessaram sua infância, ainda hoje aparecem como camadas fundamentais em sua produção. Ao longo da trajetória, Júlia desenvolveu uma linguagem própria que mescla humor, crítica e intensidade cromática, criando obras que combinam desenho, pintura, escultura e arte digital.


Sua formação em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Santa Catarina foi ampliada por experiências internacionais, entre elas a especialização em ilustração e quadrinhos na Scuola Mohole, em Milão, além de estudos em caligrafia, criação de roteiros e modelagem em polymer clay. Essas vivências lhe deram base para transitar com naturalidade entre diferentes técnicas, da pintura em tela às histórias em quadrinhos criadas apenas com caneta bic, passando pela construção de esculturas e experimentos digitais.


Em Julho de 2025, Júlia realizou sua primeira exposição individual em São Paulo, Poison Eye: Fragmentos de um universo pessoal. A mostra apresentou um conjunto de obras que dialogam diretamente com referências visuais de sua infância e juventude, reorganizadas sob uma consciência crítica e poética. Foi essa estreia no cenário paulistano que motivou a entrevista, onde a artista compartilha como viveu a experiência de ocupar pela primeira vez uma sala expositiva na capital paulista e quais caminhos ela enxerga a partir desse marco em sua carreira.




      Wings of the Storm_óleo sobre tela
      Wings of the Storm_óleo sobre tela

1- Como foi preparar as obras para a exposição e organizar o conjunto?


Preparar as obras e organizar como um conjunto foi um trabalho um tanto natural já que é uma tendência da minha visão e da minha estetica não ter variações muito grande de discurso e estilo. Assim as obras naturalmente ficaram ligadas e com certa harmonia entre elas. Apesar disso eu tentei nos ultimos quadros que pintei, diversificar um pouco ou com o olhar um pouco mais suave, com cores mais claras ou até com técnicas diferentes para explorar a minha visão com outras ferramentas.


As obras de caneta Bic seguem sempre um olhar parecido com os quadros mas com uma linguagem mais direta então apesar de ser uma técnica diferente, o traço e a visão conectaram sem muita dificuldade com os quadros.




Caneta bic sobre papel


2- Muitas vezes a exposição individual é um marco na trajetória de um artista. Como você percebe essa experiência no seu percurso?

 

O que eu mais percebi foi um sentimento de encerramento de uma etapa. Essa exposição representou uma síntese da minha trajetória até aqui, como se fosse um retrato do meu amadurecimento, da consolidação de uma visão poética e também da aceitação do título de artista. Foi uma forma de olhar para trás e reconhecer o caminho que percorri, com todas as influências, experimentos e buscas que me trouxeram até esse momento.


Ao mesmo tempo, sinto que se trata de uma abertura. A exposição me mostrou que esse reconhecimento também inaugura uma nova fase, mais consciente e desafiadora. É como se eu tivesse colocado um marco no percurso, para agora poder caminhar com mais clareza, sabendo onde já estive e quais caminhos ainda quero explorar.


O fechamento dessa etapa vem acompanhado de um impulso de renovação, de me reinventar e, principalmente, de abrir espaço para trabalhos futuros que possam dialogar não só com a minha trajetória pessoal, mas também com questões mais amplas que permeam o mundo em que vivemos.



3- Se tivesse que escolher uma obra da mostra como chave de leitura para todo o conjunto, qual seria e por quê?

 

Acho que “Vulnerable Adult” é uma obra que engloba todo o conjunto da minha fala e estética. Ela tem um lado sombrio, do estranho mas bonito, com uma visão não considerada muito adulta mas bastante reflexiva e mescla muito bem o lado visual entre ilustração e uma aparência semirealista.



Vulnerable Adult_50 x 50 cm - Óleo sobre Tel_2023
Vulnerable Adult_50 x 50 cm - Óleo sobre Tel_2023

4- De que maneira esse processo, da montagem à convivência com a exposição transformou sua forma de pensar no próximo trabalho?


Acho que todo esse processo me mostrou o quanto é importante se organizar com antecedência em tudo que for possível. Ter os rascunhos prontos, pensar nos tamanhos de tela adequados para cada ideia e preparar esse planejamento antes da fase final de execução faz toda a diferença. Isso permite que, no momento de pintar, eu possa me dedicar mais livremente à criação, sem estar presa a preocupações práticas ou à pressão do tempo.


Também percebi a importância de buscar diversidade técnica e de imagens dentro de um mesmo conjunto, porque isso dá dinamismo à exposição e enriquece a experiência de quem visita. Essa foi uma lição clara: não basta apenas reunir obras, é preciso pensar no diálogo entre elas, em como se complementam ou se contrastam.


A convivência com a exposição em cartaz também me transformou. Entendi que cada trabalho ganha novas camadas de leitura quando está diante do público. Essa percepção me fez pensar no quanto a próxima produção pode considerar já desde o início essa abertura ao olhar do outro.


Saio dessa experiência com vontade de otimizar ainda mais o que pode ser racionalizado no processo, organização, planejamento, logística, para preservar espaço para a parte intuitiva, que é o que realmente move meu trabalho. E também com o desejo de explorar novos formatos e plataformas, inclusive digitais, de forma que cada projeto possa expandir seu alcance e se desdobrar em diferentes linguagens.




Obras do acervo da exposição: Poison Eye: Fragmentos de um universo pessoal



5- Quais aprendizados você leva dessa experiência e o que gostaria que permanecesse no público que visitou a exposição?


Um dos aprendizados dessa experiência foi que ao expor minha visão passei a me acostumar a aceitar uma certa vulnerabilidade que vem junto com uma exposição individual e coisas do tipo. Eu dei tudo de mim, pensei em cada detalhe para ser o melhor que as obras poderiam ser, fiquei satisfeita com o resutado. Porém por ser uma fala íntima que vai ser vista por tantas pessoas, você acaba querendo que as pessoas vejam do “jeito certo”, mas ao mesmo tempo, tem que aceitar se elas não virem dessa forma. Essa exposição me fez aceitar essa possibilidade com mais calma.


Para quem visitou a exposição eu gostaria que elas levassem um pouco da visão “Poison Eye” e refletissem sobre o feio/bonito e as questoes humanas que isso revela.




Realização: UP Time Art Gallery - Curadoria: Marisa Melo

6- Já consegue vislumbrar quais caminhos ou ideias pretende explorar nos próximos trabalhos?

 

É um pouco difícil falar de caminhos ou ideias porque meus trabalhos nascem muito dos momentos e fases que estou vivendo, e as influências acabam variando bastante. Mas, a princípio, quero continuar experimentando novas combinações de cores e mesclas entre o semi-realismo e a ilustração, onde tenho encontrado possibilidades ricas. Também penso em dar continuidade à pesquisa com diferentes suportes, desde a pintura até a arte digital, que vem se mostrando cada vez mais um espaço fértil para expandir minha linguagem.


Outro ponto importante é que a exposição física em São Paulo não se encerra no espaço da galeria: parte desse trabalho vai migrar para o ambiente virtual, criando uma extensão digital da mostra. Essa transposição me interessa muito, porque amplia o alcance da obra e permite explorar recursos interativos que dialogam com um público diverso. Para os próximos passos, imagino seguir nesse duplo caminho, entre a materialidade da tela e a imaterialidade das plataformas digitais, sempre com a liberdade de testar, mudar e me deixar conduzir pelo que cada fase da vida me apresenta.





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