História de Todas Nós, Mulheres: Um fio contínuo entre o ontem e o agora
- Marisa Melo
- 1 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: há 4 horas

Algumas histórias atravessam o tempo sem pedir licença. Estão nas fotos que guardamos, nos gestos repetidos sem perceber, nas vozes que, mesmo caladas, continuam presentes. O projeto História de Todas Nós, Mulheres nasce desse lugar, onde a palavra e a arte se tornam formas de existir, partilhar e seguir em frente.
Escrever essas histórias tem me atravessado de verdade. Às vezes, é como sentar diante de uma fogueira acesa por outras mulheres, ouvindo relatos que também dizem de mim. Eu não escrevo de fora, escrevo com elas. Escuto, me deixo afetar, e só depois escrevo.
Quando uma mulher escolhe contar sua trajetória, ela não entrega apenas fatos. Ela compartilha decisões, perdas, coragem. Receber isso é um ato de confiança. Eu acolho como quem segura algo valioso entre as mãos.
Essas histórias mostram o quanto já caminhamos. E não me refiro só aos nomes dos livros, mas às tantas mulheres anônimas que sustentaram casas, criaram filhos, ensinaram, cuidaram, resistiram sem palco nem registro.
Maria Quitéria vestiu uma farda e foi à luta em pleno século XIX. Dandara dos Palmares liderou fugas e estratégias com inteligência e bravura. Nise da Silveira escolheu cuidar com arte num tempo de violência institucional. Frida Kahlo transformou dor em imagem, sem romantismo. Todas seguiram mesmo sem apoio, mesmo quando o mundo respondeu com silêncio.
E seguem vivas nas histórias que escuto hoje.
Como Karla Lessa, que enfrentou a depressão e uma doença crônica com o que tinha à mão: tinta, pincel e tempo. De sua cama nasceram mais de cem obras. Ou Rossana Covarrubias, que em plena pandemia cuidava da mãe com Alzheimer, do filho com esclerose múltipla e ainda enfrentava o desemprego. Seguiu mesmo assim, com afeto e o pouco que tinha.
Essas mulheres não entregam apenas a dor. Elas mostram como seguiram, como criaram saídas onde não havia nenhum caminho. É isso que me move: reconhecer essas vozes, dar nome, dar espaço.
Porque cada história é uma ponte entre o que fomos e o que ainda podemos ser.
Vivemos tempos duros. Cansaço, sobrecarga, cobranças por todos os lados. Mas seguimos criando, cuidando, sonhando. A força da mulher está também na atenção, nos detalhes, nos gestos que sustentam o dia. Essa força precisa ser vista. E lembrada.
Este projeto é um espaço de escuta e reconhecimento. Cada história costura a outra. E, juntas, formam um tecido que continua sendo tecido. Não é só sobre passado. É sobre agora. Sobre o que ainda temos para construir.
Porque a história de todas nós, mulheres, não acabou. E o que dizemos hoje pode ser o que sustenta outras amanhã.