
Gane Coloda sempre foi movida por uma inquietação, um desejo quase instintivo de enxergar além do óbvio, de encontrar poesia nos detalhes que muitos deixam passar. Cresceu entre os vinhedos e montanhas de Flores da Cunha, onde seu pai registrava momentos da família com uma filmadora. Na época, talvez sem perceber, a fotografia já se infiltrava na sua alma, como uma semente esperando o tempo certo para florescer.
Fotografar, para Gane, nunca foi apenas apertar um botão, mas, sentir. Andar descalça, deixar o vento bagunçar os cabelos, observar o ritmo dos animais e perceber que a vida pulsa até nas coisas mais sutis. Essa conexão com o mundo natural foi sua bússola, e sua arte reflete exatamente isso.
Na adolescência, a câmera se tornou sua aliada. Ela usava a fotografia como um pretexto para conhecer pessoas, para ouvir histórias, para capturar o que os olhos nem sempre revelam. "Enquanto experimentava, aprendi que a fotografia não é sobre a imagem em si, mas sobre tudo o que está por trás dela".
A certeza veio em 2010, durante um curso em Belo Horizonte. Entre luzes e sombras, Gane entendeu que não havia outro caminho: a fotografia não era apenas algo que ela fazia, era parte de quem ela era. Desde então, cada retrato seu carrega essa verdade. Seu olhar sempre presente para o feminino, para os laços familiares, para a delicadeza e a força que coexistem em cada história. No projeto Caiena , revelou a sensualidade e a potência das mulheres; em Lifestyle , mergulhou na intimidade dos lares, capturando o afeto em sua forma mais crua e genuína. Dressing The Bride transformou vestidos de noiva em símbolos visuais de sonhos e promessas.
Mas foi na fotografia documental que Gane encontrou uma voz ainda mais profunda. Nos livros Mulheres do Interior e Longa Vita , ela não apenas retratou rostos, mas traduziu vidas, mulheres que ajudaram a moldar a Serra Gaúcha, idosos que carregam décadas de sabedoria no olhar.
E então veio Marrocos. Um sonho, um mergulho em uma cultura vibrante, um novo universo de cores, texturas e histórias esperando para serem contadas. Foi lá que nasceu "Você é Liberdade", uma fotografia que capta o instante mágico de uma revoada de pássaros cortando o céu marroquino. Não é só uma imagem, é um manifesto sobre o voo, sobre os caminhos que escolhemos e sobre a coragem de seguir.


Já em "Terra", da série Origem , Gane nos convida a um retorno às raízes. Em sua fotografia abstrata. A textura, os tons terrosos, a vibração da imagem nos fazem lembrar que pertencemos à terra, que há algo primitivo e essencial a nos chamar de volta.
Essas duas obras fazem parte da exposição Desconstruções Urbanas: A Complexidade da Vida Moderna , uma mostra que reflete sobre a dinâmica das cidades, os contrastes entre tradição e modernidade e a busca por identidade em meio ao caos contemporâneo. Com curadoria de Marisa Melo e realização da UP Time Art Gallery.
Apresentar seu trabalho na maior metrópole do Brasil é mais do que um reconhecimento; é um novo capítulo. São Paulo, com sua efervescência cultural e seu ritmo acelerado, é um espaço onde diferentes narrativas visuais se encontram e se transformam. Para Gane, estar nesse cenário representa um passo futuro, um encontro com um público novo e um desafio empolgante.
Seu olhar sensível e poético, que já percorreu vinhedos, montanhas e terras distantes, agora dialoga com a complexidade urbana. E essa transição não poderia ser mais simbólica: sua arte, que sempre falou de essência, pertencimento e liberdade, agora encontra novos horizontes. A exposição Desconstruções Urbanas é um rito de passagem, um momento de expansão e descoberta.




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