O Processo Criativo em Fluxo
- Marisa Melo
- 11 de fev.
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.
Quando a arte se desvia da forma rígida e entra no campo da abstração, ela se torna uma experiência fluida, um jogo entre o físico e o imaterial. A tentativa de capturar tudo o que a mente pode imaginar e traduzi-lo em matéria é uma tarefa que não segue um caminho direto. Há algo de imprevisível nesse processo, algo que não se deixa encaixar facilmente. A arte, como um organismo vivo, se desdobra e se reinventa a cada movimento, a cada pensamento que se materializa na tela.
O trabalho do artista não se resume à manipulação formal. Criar é posicionar-se no mundo, construir relações com o espaço e responder às questões do tempo em que se vive. A obra não nasce isolada. Ela é fruto de um processo que articula realidade e imaginação, técnica e escolha. Às vezes, é preciso permitir que a forma se desfaça, que a matéria se reorganize, que a imagem perca rigidez. É nesse deslocamento que surgem as possibilidades mais interessantes, aquelas que escapam ao entendimento imediato, mas permanecem.
Na produção de Karla Lessa, esse deslocamento ganha estrutura geométrica. Sua abordagem é precisa, mas não é rígida. Ao contrário: a geometria em sua obra não congela a imagem, amplia o campo de leitura. Cada pintura, quando colocada em um espaço expositivo, não se encerra no próprio formato. Ela propõe relação com o ambiente, sugere continuidade. Cada elemento está articulado, mas também se afirma como unidade.
Karla trabalha com nanquim, acrílico, aquarela e outros materiais de forma equilibrada. Sua paleta é contida, mas não neutra. Há ritmo, há densidade. O uso da geometria não resulta em frieza. Ao contrário, revela um processo que respira. A artista constrói imagens que se ajustam ao espaço sem perder força. Elas não impõem, mas também não se apagam.
O que poderia ser apenas uma organização visual torna-se afirmação poética. A geometria, em sua mão, deixa de ser recurso técnico para se tornar linguagem. E é nesse gesto, entre o controle e a abertura, que seu trabalho se destaca. E, com isso, transforma a forma em pensamento visual em expansão.
