De Florianópolis a Milão: A Trajetória de Julia Dalcastagne no Cenário Global da Arte
- Marisa Melo

- 11 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.

"Colors of the Wind" - Ano: 2020_50 x 70 cm/óleo sobre tela
A história de Júlia Dalcastagné não começa com um plano, mas com um impulso. Nascida em Florianópolis, filha de um paraense e uma catarinense vindos das ciências exatas, ninguém esperava que ela escolhesse a arte. Mas a casa sempre teve música. O pai tocava piano e bandolim, e foi ali que tudo começou. Antes de qualquer desenho, veio o piano. Júlia aprendeu a tocar ainda criança, quando arte era som antes de ser imagem.
O desenho veio cedo, sem aulas formais. Passava tardes desenhando enquanto assistia TV. Estudou na escola Waldorf Anabá, onde teve contato com caligrafia, aquarela, argila, marcenaria. Tudo isso refinou seu olhar e desenvolveu sua habilidade manual, mas não apagou um conflito que já existia: o gosto pelo sombrio e pelo pop conviviam em tensão. Essa dualidade seguiria com ela.
Aos 12 anos, passou um ano em Londres. O pai fazia pós-doutorado, ela mergulhou nos museus. A National Gallery virou lugar de rotina. Ali, se encantou por obras que a maioria passava rápido. A Grotesque Old Woman, de Quinten Massys, foi um ponto de virada. Júlia se reconheceu no feio, no estranho, no desconfortável. Começou a desenhar com carvão, grafite, crayons. Aprendia sozinha, com o olhar.
De volta ao Brasil, veio o baque da readaptação. Foi na arte que ela encontrou um jeito de se organizar por dentro. Deixou o realismo de lado, criou personagens caricatos, e entrou em uma fase marcada por nanquim, corretivo, caneta vermelha e frases curtas. A literatura ajudou a moldar essa nova linguagem. Leu Machado, Eça, e o texto passou a acompanhar o traço.
Escolher Artes Visuais foi natural. Na faculdade, experimentou guache, acrílica, óleo. Goya entrou no repertório, mas também Mauricio de Sousa, homenageado em seu trabalho de conclusão. Conheceu o criador da Turma da Mônica pessoalmente, em um evento que marcou sua passagem pela universidade.
Depois da graduação, Júlia foi para a Itália, viveu um ano em Monza, estudou ilustração e quadrinhos. Aprofundou técnicas, fez cursos de caligrafia, aprendeu a trabalhar com polymer clay e tridimensionalidade. Voltou ao Brasil com a linguagem mais madura, misturando influência de artistas como Camille Rose Garcia e Ayami Kojima, que unem o excesso de cor ao peso da sombra.
Nos últimos anos, retomou o óleo sobre tela. Trouxe de volta o realismo, mas agora filtrado pela caricatura e pelo estranhamento. É essa combinação que define sua pintura atual: olhos grandes, cenas inquietas, cores intensas. Tudo parece doce à primeira vista, mas há sempre um ruído, algo que desloca o olhar.
Júlia participou de mostras no Brasil e no exterior, incluindo a Bela Bienal do Rio de Janeiro, além de exposições em Osaka, Paris, Finlândia, Portugal, Barcelona e uma etapa programada para a Bélgica. Sua produção é marcada por fluidez, por rupturas e recomposições. Não segue linha reta. Júlia carrega traços da infância, das viagens, das referências visuais e literárias que moldaram sua trajetória. Sua pintura não tenta agradar. Ela tensiona. E é nisso que reside sua força.

Sad Harley Quinn” - 2019_Pintura Digital

“Family Portrait” - 2019_Pintura Digital

“Parasite Lady” - 2021_80 x 50 cm – Óleo sobre Tela

“Vulnerable Adult” - 2023_50 x 50 cm – Óleo sobre Tela

“Problem Child” - 2021_70 x 50 cm – Óleo sobre Tela
Saiba mais sobre a artista:
Instagram: @jdalcastagne.art


