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Como Construir uma Carreira Artística Sem se Perder nas Redes Sociais


O tempo do artista raramente cabe no tempo da internet.

Se por um lado, vivemos a era da maior possibilidade de difusão individual da história, por outro, essa mesma visibilidade cobra um preço alto: performar relevância, produzir constância, adaptar-se ao formato. A lógica das redes não foi feita para preservar o silêncio, o esboço ou a dúvida, mas são justamente esses espaços que fazem parte do ofício do artista.

A pergunta que ecoa, de ateliê em ateliê, de curador em curador, de jovem promissor a veterano consagrado, é: como estar presente sem se descaracterizar? Como usar as redes como ponte, sem deixar que elas virem palco de distorção?

Esse artigo é uma tentativa de lançar luz sobre essas inquietações, e oferecer caminhos possíveis, com raízes na tradição e olhos atentos ao presente.


A ilusão da visibilidade como medida de valor

Durante séculos, a construção de uma carreira artística dependia de ateliês, salões, prêmios, galerias e colecionadores. Hoje, uma postagem bem-sucedida pode fazer o trabalho de um mês em menos de 24 horas, e também desaparecer no dia seguinte, como poeira.

O problema não está na tecnologia. Mas sim no que ela passou a representar: uma régua. Um padrão de sucesso baseado em curtidas, seguidores, compartilhamentos e alcance. Métricas que não dizem nada sobre a consistência de uma obra, sua relevância estética ou seu impacto cultural.


Curadores, críticos e educadores têm sido constantemente pressionados a “provar” o valor de uma obra por sua performance digital. E artistas, por sua vez, vivem o dilema de criar para a eternidade ou para o engajamento.

É preciso recusar essa falsa equivalência: o que viraliza não é, necessariamente, o que permanece.


O artista como curador de si mesmo

Um erro recorrente de muitos artistas é entregar sua imagem pública ao acaso. Criar perfis sem direção, postar com pressa, seguir modismos, reproduzir estéticas alheias, buscar fórmulas que deram certo com outros. O resultado é quase sempre o mesmo: desgaste, frustração e ruído.

A presença digital de um artista precisa ser pensada como uma extensão da sua obra. Um território onde ele também exerce curadoria. E isso exige intenção, ritmo e coerência.


Algumas perguntas fundamentais:


  • O que faz parte da minha linguagem e pode ser compartilhado?

  • Que tipo de público desejo formar?

  • Como quero ser percebido dentro e fora da tela?

  • Qual espaço estou deixando para o mistério, o silêncio e o não dito?

Essas perguntas, quando respondidas com honestidade, ajudam a construir uma presença digital que não contradiz o que o artista é, mas prolonga sua poética.


Curadoria e crítica também estão mudando

A velocidade das redes impôs um novo tipo de urgência à curadoria contemporânea. O curador hoje, muitas vezes, é atravessado por feeds antes de conhecer ateliês. E isso muda a forma como as pesquisas são feitas, como os artistas são descobertos e como a crítica se posiciona.

Isso não significa, no entanto, que o campo da arte tenha se empobrecido. Pelo contrário: surgiram novas formas de circulação, acesso e encontro. O que precisa acontecer agora é o amadurecimento dessa dinâmica.


Curadores atentos não estão em busca de artistas que performam para o algoritmo, mas de artistas que resistem a ele sem ignorá-lo. Que usam as redes como campo de partilha, não como espelho deformado.

Da mesma forma, os curadores também precisam reaprender a se mover nesse novo cenário, sem perder os critérios que sustentam uma prática ética e estética.


Dicas práticas para artistas que desejam se posicionar com autonomia


1. O ritmo da obra é soberano. Se sua criação é lenta, profunda, feita de camadas, não tente se encaixar na lógica da produção diária. A frequência não deve comprometer a integridade.

2. O perfil é seu ateliê expandido. Use-o como espaço de partilha processual, de pensamento visual, de bastidores reais. Isso aproxima o público sem vulgarizar a obra.

3. A palavra importa. Ao postar, escreva como quem escreve para o catálogo de uma exposição. Sua legenda também pode ser crítica, poética, ensaística. Ela não precisa ser publicitária.

4. Fotografe com cuidado. As imagens devem respeitar sua obra. A iluminação, o enquadramento, a resolução. Tudo isso comunica antes mesmo do texto.

5. Não terceirize o olhar. Não se molde ao que deu certo para outro artista. O seu caminho é singular. E é essa singularidade que atrai os olhares certos.


Manter-se inteiro em um mundo fragmentado


Estar nas redes não é o problema. Estar refém delas, sim.

O que se propõe aqui não é uma volta ao passado ou um elitismo que exclui o presente. Mas um gesto de resistência lúcida: usar as ferramentas de hoje sem perder o espírito do ofício. Um artista não precisa ser influenciador. Precisa ser coerente.

E talvez o maior ato de presença, hoje, seja não ceder ao ruído. Que cada obra publicada, cada texto escrito, cada imagem postada, seja uma extensão honesta daquilo que nos move a criar.

No fim, é isso que permanece.



Se esta leitura tocou algo em você, convido a seguir explorando o blog. Aqui, compartilho outros textos pensados para artistas, colecionadores e amantes da arte que acreditam no valor do tempo e do gesto com intenção.

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