A expografia da exposição Poéticas Ilustradas
- Marisa Melo

- 16 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.
A Subversão do Fantástico no Imaginário Pop de Júlia Dalcastagné - Experiência Sensorial e Crítica
Na arte contemporânea, a experiência expositiva deixou de ser apenas uma contemplação passiva. Ela passou a ser compreendida como parte do discurso, um elemento que molda a leitura e amplia o sentido das obras. É dentro dessa perspectiva que se estrutura a exposição de Júlia Dalcastagné, uma artista que desenvolve sua linguagem por meio do contraste entre cor e desconforto, narrativa e fragmento. O espaço não é neutro, é parte do pensamento curatorial e do percurso que a artista propõe.
A montagem da exposição foi pensada com uma lógica curatorial que conduz o visitante por uma jornada estruturada, onde cada ambiente amplia a compreensão da linguagem da artista. A disposição das obras, a iluminação e a sequência de leitura foram planejadas para construir uma narrativa que se revela aos poucos, com ritmo.
No primeiro ambiente, são apresentadas as obras mais recentes da artista, criadas em óleo sobre tela. Cores intensas, contrastes marcantes e personagens com olhos desproporcionais ocupam o centro da cena. A proposta é direta: provocar, envolver, provocar novamente. O visitante encontra uma pintura que mescla o simbólico com o visceral, onde o absurdo e o real convivem com naturalidade. São imagens que não aliviam o olhar, que exploram opostos como beleza e ruína, doçura e agressividade. O resultado é um impacto visual que desafia o observador a sair da zona de conforto.
No segundo ambiente, a exposição recua no tempo e revela as fases anteriores da carreira da artista, antes de 2018. Aqui estão reunidas obras que mostram sua transição entre técnicas e suportes. Caneta esferográfica, arte digital, tinta óleo, todas aparecem em obras que, mesmo distintas na forma, mantêm uma coerência no discurso visual. A artista se apresenta como alguém que não teme mudar de ferramenta para manter seu pensamento em movimento. Essa combinação de métodos tradicionais e tecnologias atuais evidencia uma artista que se reinventa sem perder a intenção.
A organização do percurso funciona como parte integrante da experiência. Não é um caminho aleatório, mas um roteiro onde cada escolha tem peso. O visitante é guiado por uma construção narrativa que liga os extremos da carreira da artista, revelando suas transições com clareza. As fases são diferentes, mas conversam entre si, criando uma unidade que sustenta a força de seu discurso.
Ao final, o que se revela é uma artista em movimento, que reflete sobre o mundo através da imagem. O percurso deixa marcas, e quem passa por ele leva consigo a expressão de uma autora que constrói sua própria gramática visual com consistência e convicção.



