Mônica Ruggiero – O Luto que Gerou Arte
- Marisa Melo
- 4 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: há 2 dias
Histórias de Todas Nós, Mulheres é um projeto que dá voz a trajetórias femininas de superação, resiliência e transformação por meio da arte. Cada relato compartilhado carrega não apenas experiências individuais, mas também inspirações coletivas que atravessam o tempo e os corações. A história de Mônica Ruggiero é um desses testemunhos de força: uma artista que encontrou na pintura um refúgio e na criação, um caminho de cura.

Natural de São Carlos, interior paulista, Mônica formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-Campinas, ainda no final dos anos 1980. Ali, moldou o olhar e o pensamento sobre o espaço, a estrutura e a harmonia, elementos que mais tarde ecoariam em sua linguagem pictórica. Mas a inquietação criativa sempre esteve presente. Em 2003, decidiu atender a esse chamado e mergulhou de volta à vida acadêmica para estudar Artes Plásticas na Faculdade de Educação São Luís, em Jaboticabal. Era como se sua alma dissesse, silenciosamente, que a arte não era uma escolha, era destino.
A arte tem o dom raro de converter ausências em presença, de tornar visível o que o coração ainda não sabe nomear. Para Mônica Ruggiero, ela foi tudo isso, e mais. Quando a perda de seu pai se aproximou como uma certeza inevitável, a dor não pediu licença. Instalou-se lenta, mas profundamente, como quem quer ensinar algo sobre o tempo, sobre o amor, sobre aquilo que realmente permanece. A morte iminente transformou sua percepção do mundo ao redor, fazendo com que cada instante carregasse um peso diferente, como se o tempo se esticasse e encolhesse a seu bel-prazer.
A presença do pai sempre foi um alicerce em sua vida, e vê-lo partir aos poucos foi um processo devastador. A impotência diante do inevitável a levou a buscar um refúgio onde a dor pudesse ser compreendida de outra forma. No ateliê, encontrou um silêncio que não a oprimia, mas a acolhia. Cada pintura era uma confissão. Enquanto aguardava, com o peito suspenso, o dia em que seu pai partiria, Mônica produziu como nunca. Uma enxurrada criativa tomou forma, não como fuga, mas como enfrentamento. A arte, para ela, não era terapia no sentido convencional. Era a linguagem que o corpo e o espírito pediam. Cada obra surgia com autenticidade, como se enfim tivesse encontrado aquilo que sempre buscou: sua própria identidade.
Os dias que antecederam a despedida foram intensos, uma espécie de transe criativo em que a tinta parecia transbordar de suas mãos sem esforço. Mas quando o adeus, enfim, chegou, tudo desacelerou. O ritmo frenético de produção deu lugar a uma cadência mais pausada, mais meditativa. O atelier não era mais palco de urgência. Surgiu um novo estado de presença: dias em que a inspiração é tanta que o corpo inteiro se move em direção à tela, e ali permanece, alheio à fome, ao tempo, entregue ao som das músicas e ao fluxo da criação. Outros dias são mais suaves, mais internos, e mesmo assim, essenciais.
Esse novo ritmo, diferente da explosão criativa anterior, revelou algo ainda mais profundo. Antes, havia uma necessidade de extravasar, de traduzir a dor em imagem, como se cada obra carregasse um fragmento da despedida. Agora, a criação tornou-se um espaço de reencontro. Havia um desejo de prolongar a experiência, de permitir que a arte fosse um portal entre o que passou e o que ainda vive. Mônica descobriu que, fora da adrenalina do luto, a pintura se tornou um respiro e um ritual. Dias em que o braço pesa de vontade de pintar, momentos em que a inspiração chega de forma arrebatadora e a mantém em pé diante da tela por horas a fio, sem noção do tempo. A criação, agora, carrega não apenas a memória de seu pai, mas também a afirmação de sua própria existência.
Hoje, ao olharmos suas criações, vemos a mulher que se permitiu sentir profundamente. Que traduziu o luto em luz, a ausência em rastro, a memória em gesto. Mônica não apenas pintou, ela se reencontrou em cada tela. Sua trajetória prova que a arte é sobre permanência. Sobre aquilo que, mesmo depois da partida, continua vivo.
Se você também tem uma história de superação e transformação através da arte, queremos conhecê-la. O projeto "Histórias de Todas Nós, Mulheres" é um espaço para celebrar narrativas reais de força e resiliência. Compartilhar sua trajetória pode inspirar outras mulheres a enxergarem a beleza em seus próprios processos de reconstrução. Porque quando uma mulher encontra sua voz, ela abre caminhos para tantas outras. Venha fazer parte desse movimento. Sua história merece ser contada.
Obras que foram criadas durante o processo do luto
Acompanhe a história de Ritamar: