"A Jornada do Artista: Entre Palavras e Imagens"
- Marisa Melo
- 10 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: há 5 dias

A vida do artista é uma incessante busca, seja pela inspiração, pelo domínio da técnica, pela divulgação ou pelo reconhecimento do público. Aqueles que admiram nossas obras muitas vezes desconhecem o árduo trabalho que permeia cada imagem.
Essa jornada envolve uma variedade de atividades, algumas diretamente ligadas à criação, enquanto outras, embora necessárias, podem ser cansativas e burocráticas. Aqueles que verdadeiramente fazem da Arte suas vidas encaram todos esses desafios com tenacidade, movidos pelo prazer de criar e pela alegria de ver suas obras reconhecidas e valorizadas.
Observando e orientando diversos artistas, é notável que um dos maiores desafios para muitos deles é a habilidade de escrever sobre suas obras, um aspecto importante que não pode ser negligenciado. A jornada rumo ao sucesso não permite a omissão de etapas. As imagens constituem nosso trabalho, mas sem palavras que as apresentem, o percurso se torna consideravelmente mais longo.
Alguns podem alegar não ter "jeito" para escrever, uma verdade aceitável. No entanto, a falta de afinidade com verbos e adjetivos não altera a expectativa do público por esse "complemento". O título, por exemplo, é essencial. Um quadro sem título assemelha-se a um filho sem nome.
Através do título, o artista resume o que distingue a obra entre todas as outras, inclusive entre seus próprios trabalhos. Preferencialmente, que não seja óbvio, que intrigue e desafie o observador, fazendo referência a algo que o público poderia ou deveria conhecer, seja uma referência aos clássicos, uma pitada de História ou Literatura.
Ao criar uma coleção, a necessidade de um título também se faz presente, orientando o observador sobre a relação entre diferentes trabalhos, que, por sua vez, contam uma história.
Aqueles que apreciam a Arte desejam sempre mais. Quem é o compositor desta obra? O que o artista sentia ao pintar? O que estava vivenciando naquela época? Observar as obras de um artista ganharem cores vibrantes em períodos felizes e tornarem-se sombrias em anos de dificuldades é fascinante. O artista é, também, um observador. Todos compartilhamos o prazer de descobrir as intenções por trás de uma imagem. Por que, então, negar essa informação ao público?
Mais do que uma exigência de mercado, escrever sobre a própria obra é um gesto de entrega e maturidade. A escrita revela camadas que nem sempre estão visíveis no traço ou na cor. Ao nomear, descrever e contextualizar, o artista se torna também cronista de si mesmo, e isso não reduz o mistério da obra, apenas o transforma em partilha.
O texto não precisa ser rebuscado, mas precisa ser honesto. Mesmo as palavras simples têm o poder de abrir caminhos entre a imagem e o olhar de quem a contempla. Ao escrever sobre seu trabalho, o artista não fecha a interpretação, ele a inaugura.