
"Sem título" não é ausência, nem despretensão. É um gesto calculado, uma escolha que se impõe silenciosa. O artista, ao optar por não nomear sua obra, subverte expectativas para criar algo aberto a interpretação. Não se trata de um vácuo, esta ausência aparente reserva ao pintor um sentido, permitindo que a obra respire e exista por si só, sem o peso das demandas que a linguagem impõe. É um chamado à experiência aberta, para vivências puras, onde a arte se exprime.
Um diálogo autêntico nasce do encontro entre consciências que se respeitam, onde as diferenças teóricas e visuais coexistem sem necessidade de embates físicos ou simbólicos. Se até mesmo o título de uma obra se transforma em uma imposição, como enxergá-lo sem que se torne uma clausura? Nomear é sempre um ato de disputa. Em qualquer território, seja na academia, nas instituições ou nos circuitos artísticos, as palavras são constantemente vigiadas, reconstruindo caminhos já percorridos sob novas roupagens.
O artista negocia com os códigos do sistema, e até a escolha de não nomear se torna um gesto carregado de intenção. Muros ideológicos atravessam todas as fronteiras, e falar, nesse contexto, é muitas vezes repetir discursos moldados por estruturas preexistentes. Afinal, no vocabulário das convenções, artistas são visuais. O título, ao invés de abrir caminhos, pode se tornar uma sentença que aprisiona a obra dentro de uma única leitura. "Sem título" surge, então, como um espaço de liberdade, uma fissura no sistema, onde a arte pode simplesmente ser.
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