
Como é que pode? O livro que fez suas lágrimas pingarem no papel, foi lido sem entusiasmo pelo seu amigo. Sua música favorita não encanta sua amiga. E o filme que você recomendou com entusiasmo, seus amigos não assistiram até o fim.
É claro que a diversidade tem participação nisso. Cada um de nós pensa e sente de modo diferente. Nosso gosto é único. Como uma impressão digital.
Mas há algo mais. Precisamos entender como funciona o processo artístico.
Que começa quando o artista tem uma ideia, um sentimento, e quer compartilhar com o mundo. E nascem os livros, as canções, os quadros. O que precisamos perceber é que um livro não é apenas uma coleção de palavras. Nem a canção apenas um punhado de notas musicais. O que eles carregam é emoção. Um quadro não termina na última pincelada. A obra pode estar concluída mas o processo artístico está só 50% pronto.
Onde estão os outros 50%? Estão no leitor, no ouvinte, no observador. Sem isso, a Arte não cumpre seu papel.
É fascinante conversar com as pessoas sobre a motivação da compra. E ao justificar o porquê de ter comprado aquele quadro, e não outro, as respostas nos contam muito sobre a personalidade e o momento vivido pelo comprador.
Pode ser pela decoração. Aquele quadro grande e colorido chega para revolucionar uma sala sem cor. E se transforma, instantaneamente, no centro magnético do ambiente e da própria casa, trazendo a energia que faltava.
Alguém nos fala de status. Orgulhosa de sua erudição e gosto refinado, a pessoa apresenta o quadro a seus visitantes como quem oferece uma garrafa de vinho caro. Se puder contar algo sobre a obra e seu autor, então, o sucesso é total.
Identificação. Quando levamos para casa um ídolo. Alguém com qualidades que admiramos e queremos ver refletidas em nossas vidas: Ayrton Senna, Dalai Lama, Frida Kahlo...Esses quadros contam de nós mesmos. De nossa energia, nosso engajamento, nossa espiritualidade.
Muitos quadros abstratos são comprados para representar estados de espírito que o comprador quer ter sempre presentes. De uma paixão muito vermelha a uma tranquilidade essencialmente azul, o abstrato acaba sendo uma conversa muito particular entre a obra e o íntimo do observador. Com imagens insinuadas, objetos que ninguém mais enxerga. Uma comunicação que vai além da forma. Além da cor. Além do tempo.
Alguém comprou um quadro que mostrava um vilarejo. E explicou que comprava por causa da igreja. Ao olhar aquele quadro ele ouvia em sua mente os sinos da igreja da cidade onde viveu os anos felizes de sua infância.
No final, em todos os casos, estamos falando do encontro de emoções.
Um quadro é um objeto muito especial. Um meio de transporte para outras dimensões. Um elemento de transformação da sua casa. Um refúgio, uma inspiração.
Por mais que lhe seja atribuído um preço, por mais que os quadros se valorizem, o que conta mesmo é a emoção.
Quanto vale sua emoção?
Só você sabe avaliar o quanto um determinado quadro está em sintonia com o que você quer sentir, admirar, lembrar, exibir, ousar.
E numa experiência pessoal, só sua, ele estará ali, sempre disponível, para fazer ouvir sinos distantes, sentir o perfume do mar, de flores esquecidas, e promover seu reencontro com um ser maravilhoso, complexo, extraordinário e único.
Que é você.
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