Marisa Melo - Série: Éter Monocromático_2022 - Acrílica sobre tela, 100x100 cm
O artista é uma alma inquieta, frequentemente caminha na linha tênue entre o ato de criar e a busca por existir.
Digo isso, artista que sou! Na música, ele escuta melodias que falam de sentimentos universais. No teatro, observe a dança das máscaras que revelam e ocultam as verdades não ditas. Na poesia, encontra refúgio nas palavras, usa sua vulnerabilidade com versos. Mas estar diante da tela em branco que o artista enfrenta o maior de seus dilemas: o vazio.
Esse vazio não é apenas físico, mas existencial. Ele é ao mesmo tempo promessa e desafio, esperando ser preenchido. Cada obra carrega uma tentativa de ordenar o caos interno, de capturar o volátil. Mas, junto com a tinta, surgem as dúvidas: "Será que minha obra será concluída? Será suficiente? Será que importa?
Criar é um ato de coragem. É despejar a alma em algo que o mundo pode admirar ou rejeitar, sem que isso diminua o peso da entrega. E, no entanto, o dilema persiste: como equilibrar o de criar com os critérios práticos da vida? Como manter a essência artística sem sucumbir às negociações que o mercado impõe?
O artista plástico, em especial, trava uma batalha. A tinta é mais que matéria; é a extensão de sua alma. A tela é mais que um suporte; é um campo de batalha onde ele luta contra o vazio, a crítica e, muitas vezes, contra si mesmo. O resultado desse embate é uma obra que pulsa vida, um reflexo das emoções que o silêncio não consegue guardar. É uma tentativa quase sagrada de dar forma ao indizível, de transformar em cor e textura aquilo que só pode ser sentido no âmago de quem contempla. Cada detalhe carrega uma verdade que não precisa de palavras, apenas do espaço para tocar e ser tocada.
Há também o peso da solidão. O fazer artístico é solitário por natureza, mesmo quando o mundo celebra o artista. No silêncio do ateliê, ele se depara com as angústias que apenas a arte parece compreender. São noites em claro, dias de incerteza, e, ainda assim, ele continua, movido pela urgência de expressar o que o coração não consegue calar. Essa solidão, embora dolorosa, é também o espaço onde ele encontra a verdade de sua criação.
E há o tempo, implacável e voraz. O artista corre contra ele, tentando concluir o que parece infinito, enquanto carrega o temor de que suas obras nunca sejam suficientes para traduzir tudo o que sente. No entanto, é nessa corrida que a arte nasce, como um fôlego descoberto ao cansaço, uma chama que resiste mesmo em meio à escuridão.
E, embora os dilemas sejam constantes, há momentos de reconciliação. Quando alguém encontra uma obra de arte, quando um estranho contempla uma pintura e sente algo que não consegue explicar, o artista percebe que sua luta não é em vão. Ele cria para trazer significado ao mundo, para dar cor ao silêncio, para conectar o que parece desconectado.
Os dilemas não são obstáculos, mas são parte essencial do processo criativo. Eles são o que mantém o artista conectado à sua humanidade. Sem questionamentos, talvez não houvesse a profundidade para atingir e transformar outras pessoas. E sem essas pessoas impactadas, a arte perderia seu propósito mais nobre: despertar emoções, provocar reflexões e fazer o mundo sentir de maneira mais intensa e verdadeira.
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