
Andrea Mariano é uma artista que sabe combinar com precisão o realismo e a pop art, criando obras que revelam sua sensibilidade e um olhar atento às sutilezas do mundo que a cerca. Nascida em Princesa Isabel, uma cidade que carrega a força e a resiliência de seu povo, ela nunca perdeu de vista suas raízes. A arte de Andrea é, de muitas maneiras, uma extensão de suas próprias memórias e vivências, trazendo à tona histórias e tradições que fazem parte de sua trajetória.
Sua pintura "Memórias do Sertão" (70x90 cm, acrílica sobre tela) surge desse desejo de preservar e reviver uma parte fundamental de sua história: a relação com seu pai e o universo da pecuária, um ofício que por tanto tempo fez parte de seu cotidiano, transmitindo os valores que ela leva consigo até hoje.
A inspiração para essa obra vem de sua infância e juventude, quando acompanhava seu pai, um homem dedicado à pecuária. Desde pequena, ela teve o privilégio de vivenciar essa realidade de perto, passando tempo com ele em sítios e fazendas, acompanhando a busca por pastagens mais férteis para o gado. Na cidade, havia um curral, algo comum naquela época, e isso permitiu a Andrea ter um contato ainda mais próximo com os animais, o que despertou nela um profundo respeito pelo trabalho árduo e pela relação que existe entre o homem e a terra.
Com o passar dos anos, essa convivência com o campo se transformou em um sentimento de admiração profunda por seu pai, o que Andrea quis traduzir nessa pintura. Ela escolheu o realismo, pois além de permitir uma fidelidade aos detalhes, a técnica é capaz de transmitir a força e a bravura dos pecuaristas, especialmente os de Princesa-PB, que enfrentam os desafios da seca e continuam a tradição com coragem.
A execução da obra foi um processo cuidadoso, cada traço, cada luz e cada elemento foi pensado com rigor técnico e uma sensibilidade que reflete a alma da artista. Na pintura, dois bezerros debruçados e tranquilos, um sobre o outro, transmitindo uma sensação de serenidade. Eles são representados com as cores da terra, reafirmando a conexão com o ambiente. O verde vibrante do capim, que para Andrea representa a esperança, sempre presente no coração daqueles que vivem do campo. Ao fundo, o verde das árvores e o azul do céu se misturam, criando um horizonte que equilibra e completa a cena.
O momento retratado é muito pessoal: Andrea traz para a tela uma lembrança do seu pai nos anos 1980, caminhando com um touro manso pelo curral. A pelagem do touro, coincidentemente, se assemelha aos bezerrinhos da pintura, tornando esse instante ainda mais especial e cheio de significado. Com isso, a arte imortaliza não só uma memória, mas os valores passados de geração em geração, como o respeito pela natureza e o amor pelos animais. A presença de seu pai, agora eterna através da arte, mantém viva uma herança de devoção ao campo e ao trabalho árduo.
A forma como Andrea compartilha essa história é, em si, uma homenagem à sua família, ao seu povo e à cultura sertaneja, que continua a resistir ao tempo. A obra é uma forma de conectar passado e presente, preservando a essência do amor pela terra, a dedicação ao trabalho e o respeito pelas raízes.
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