Mazé Andrade é daquelas artistas que transformam tudo o que tocam em expressão autêntica. Seu olhar apurado e sensível, além da estética: cada obra carrega pedaços de sua história, suas raízes e do mundo ao seu redor. Nascida na Paraíba e vivendo no Recife desde os anos 60, Mazé construiu uma trajetória artística marcada pela inquietação e pelo desejo constante de reinventar sua linguagem. Seu trabalho é um diálogo, com a memória, com a identidade brasileira e com as mudanças que moldam a sociedade. Desde 1979, quando deu os primeiros passos na arte, estudando com mestres como Aurora Lima, José de Barros, Suely Cisneiros e Hélio Soares, Mazé experimenta diversas técnicas, do desenho à cerâmica, da gravura em metal à litogravura. Com mais de 45 exposições em diferentes cidades do Brasil e do mundo, de Buenos Aires a Frankfurt, ela leva sua arte para além das fronteiras, provando que sua voz artística é universal.

As litogravuras "Sobrevivência" e "Miscigenação" são dois exemplos de como Mazé consegue, com delicadeza e força, traduzir questões sociais complexas. Ambas fazem parte da exposição Desconstruções Urbanas: A Complexidade da Vida Moderna, que propõe um olhar sobre os desafios urbanos e a maneira como esses desafios impactam nossa identidade, nossa memória e nossa convivência no contexto contemporâneo.
"Sobrevivência" é uma litogravura (48x68 cm) enraizada nas memórias de Mazé Andrade, sendo uma representação nostálgica de sua infância no sertão nordestino. A obra mergulha o espectador em uma paisagem árida e simbólica, onde espinhos cortam o espaço, palhas secas se entrelaçam, peixes fora d'água parecem desafiar a realidade e uma cobra, abocanha um animal magro e caído. Cada elemento é carregado de uma carga emocional que remete ao sofrimento e à resistência do sertão. Através dessa litogravura, Mazé resgata momentos de seu passado, e revela a complexa luta pela sobrevivência em um lugar onde a vida e a morte se entrelaçam constantemente.

Já em "Miscigenação" (48x68 cm), Mazé nos traz uma visão mais intimista, mas igualmente potente, sobre a fusão de culturas que define o Brasil. Ao misturar elementos de diferentes origens e histórias, ela cria uma obra que fala sobre as raízes do nosso país e, ao mesmo tempo, sobre como essas raízes se entrelaçam e se reinventam ao longo do tempo. A obra é uma metáfora visual sobre a construção da identidade brasileira, que não é estática, mas sim um processo contínuo, repleto de transformações e possibilidades.

Um aspecto notável do trabalho de Mazé ao longo de sua carreira é a presença das mulheres como protagonistas. Em uma época em que o papel da mulher na arte e na sociedade era frequentemente marginalizado, ela faz questão de dar voz e destaque às figuras femininas.

A exposição Desconstruções Urbanas nos permite refletir sobre os desafios da vida moderna, mas também sobre como nossa identidade está em constante processo de construção e desconstrução. A arte de Mazé é uma janela aberta para esse processo, e, ao nos depararmos com suas obras, somos chamados a olhar para nossas próprias histórias, nossas próprias raízes e nossa relação com o mundo que nos cerca.
Visite a exposição:
Desconstruções Urbanas: A Complexidade da Vida Moderna
Curadoria: Marisa Melo
Realização: UP Time Art Gallery
Exibição: até 11 de março - Local: @westplaza
Av. Francisco Matarazzo s/n
Água Branca - São Paulo
Comments