Bob Woods e a caça silenciosa das formas
- Marisa Melo

- 17 de jan. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 16 de mai.

Há títulos que funcionam como enigmas. Caçadores de Obras Primas é um deles. Não anuncia um tema, mas provoca uma leitura. A obra de Bob Woods não se impõe com urgência visual, ela se aproxima em silêncio, pedindo tempo. Há algo de armadilha visual nessa pintura geométrica e quase minimalista, onde cada cor, forma e textura parece ter sido colocada em seu lugar após uma dança de possibilidades.
Antes de chegar à tela, Woods habita o universo digital como quem visita um estúdio de ensaio. Seus esboços não são versões simplificadas, são coreografias visuais. No ambiente virtual, ele experimenta proporções, ritmos, contrastes, tensões. E quando finalmente migra para o óleo, é como se estivesse prestes a fixar uma partitura silenciosa, onde cada forma é nota e cada cor, compasso.
A linguagem visual da obra é geométrica, mas não fria. Existe calor no equilíbrio. Cada círculo, linha ou plano parece medido, mas também levemente desalinhado, como se o artista propositalmente quisesse evitar a rigidez. Essa tensão entre controle e espontaneidade é o que dá corpo à pintura. Woods não busca simetria plena, ele busca diálogo. Formas que se observam, se cortam, se reconhecem.
A paleta de cores foge do óbvio. Nada brilha em excesso, mas tudo vibra com sofisticação. Tons terrosos e pastéis dialogam com brancos geométricos, cinzas precisos, verdes apagados e um preto que aparece como âncora. Há também um uso estratégico de texturas que simulam materiais, ladrilhos, tramas, cerâmicas, criando um efeito de camadas, como se a obra fosse feita de lembranças táteis e digitais ao mesmo tempo.
O centro da tela, marcado por um círculo concêntrico em preto e branco, é o ponto de força da composição. Ele poderia ser um alvo, um olho, um radar. Pode também ser o símbolo do próprio olhar que busca a obra-prima, o caçador, talvez, não seja o artista, mas o espectador. Bob Woods parece nos lembrar que cada forma é uma pergunta e que toda harmonia nasce da escuta entre elementos diferentes.
A obra lida com abstração, mas há narrativa. É possível ver nela um mapa, um jogo, um sistema solar reinventado, um diagrama de afetos visuais. A ausência de figuras humanas não reduz sua humanidade. Ao contrário, ela amplia. Porque o que está ali é o vestígio de escolhas minuciosas, de hesitações resolvidas, de pausas pensadas.
Caçadores de Obras Primas é, também, uma provocação. Quem caça o quê? O artista busca a forma ideal ou desafia o olhar do outro? O que é uma obra-prima hoje, em tempos de excesso visual, cópias e algoritmos? Bob Woods não responde. Ele sugere. E ao fazer isso com precisão e elegância, nos lembra que a verdadeira obra-prima talvez seja o gesto de continuar procurando.


