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FIGURES OF THE FOOL: O LOUVRE REVELA A LOUCURA E A ARTE DE DESAFIAR A RAZÃO

Foto do escritor: Marisa MeloMarisa Melo


Passear pelos corredores do Louvre já é, por si só, uma experiência fascinante. Mas algumas exposições nos pegam de jeito, nos fazem enxergar a arte e a história de uma maneira completamente nova. Figures of the Fool, uma das mostras mais instigantes dos últimos anos, é exatamente assim. Com mais de 300 obras, ela nos convida a refletir sobre a figura do tolo e como, ao longo dos séculos, a sociedade lidou com a loucura – ora temendo, ora ridicularizando, ora exaltando.




"Satanczyk durante um baile na corte da rainha Bona após a queda de Smolensk", de Jan Matejko. © Muzeum Narodowego
"Satanczyk durante um baile na corte da rainha Bona após a queda de Smolensk", de Jan Matejko. © Muzeum Narodowego

A jornada começa na Idade Média, onde a imagem do louco surge nas margens dos manuscritos sagrados. Nessas ilustrações minuciosas, figuras híbridas, meio humanas, meio bestiais, ocupavam um lugar à parte, quase sempre associadas ao caos e ao desconhecido. Eram seres marginalizados, vistos como amaldiçoados ou possuídos, mas que também carregavam uma verdade incômoda: a loucura é parte da experiência humana e desafia qualquer norma que tente controlá-la.


Com o passar do tempo, essa figura foi evoluindo. Saiu das páginas dos livros para as tapeçarias, das gravuras para as telas dos grandes mestres, sempre marcada pelo grotesco e pelo ridículo. Mas, como a exposição revela, há muito mais por trás do riso fácil que o tolo desperta. O amor, por exemplo, muitas vezes foi retratado como uma forma de loucura. Nos romances medievais, como os de Lancelote e Tristão, a paixão desenfreada leva à ruína, colocando os protagonistas em um estado de delírio que desafia qualquer lógica. É como se o amor, em sua intensidade absoluta, fizesse perder a razão, uma ideia que ressoa até hoje.



Dentre as obras expostas, algumas são especialmente marcantes. A Extração da Pedra da Loucura, de Hieronymus Bosch, mostra uma tentativa absurda de “curar” a insanidade, uma metáfora poderosa sobre os limites da normalidade. Já Retrato de um Bufão, de Quentin Metsys, nos encara de volta com um olhar ambíguo – uma mistura de ironia e melancolia que nos lembra de que, por trás das gargalhadas, muitas vezes há solidão e dor.

O mais interessante nessa exposição é que ela nos força a olhar para a loucura de outra forma. Afinal, quem são, de fato, os verdadeiros tolos? Aqueles que vivem à margem, questionando e provocando, ou aqueles que tentam encaixar tudo dentro de regras rígidas, ignorando a complexidade da existência?


O Louvre nos presenteia com uma oportunidade rara: um mergulho na história do tolo, mas também um espelho para a nossa própria humanidade. Figures of the Fool nos faz perceber que o riso e o sofrimento andam de mãos dadas e que, muitas vezes, os marginalizados são aqueles que enxergam o mundo com mais clareza.






A mostra se divide em quatro seções principais, cada uma com diferentes aspectos do tolo:


  • O Tolo Romântico: Esta seção examina como o tolo foi retratado na arte romântica, refletindo sobre temas como a liberdade individual e a crítica social.


  • Os Tolos Reais: Aqui, são exploradas as representações de bufões e tolos nas cortes reais, destacando seu papel como comentaristas sociais e políticos.


  • Os Tolos Urbanos: Esta parte analisa a presença do tolo na vida urbana, incluindo sua representação em festivais e celebrações populares.


  • Os Primeiros Tratamentos para os Insanos: A última seção aborda a evolução das percepções sobre a loucura e os primeiros métodos de tratamento, refletindo sobre como a sociedade lidava com a insanidade.



Se você estiver em Paris, essa é uma exposição imperdível. E se não estiver, vale a pena refletir: até que ponto a loucura é um desvio... e até que ponto ela é, simplesmente, parte essencial de ser humano?





Tapisserie, scène de chasse, colagemParis © RMN — Grand Palais (museu de Cluny — museu nacional de Moyen-Age) — Michel Urtado
Tapisserie, scène de chasse, colagemParis © RMN — Grand Palais (museu de Cluny — museu nacional de Moyen-Age) — Michel Urtado


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